segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Capítulo 22


Mira POV

O rosto dele estava transtornado, isso ficou muito claro para mim.

Desde o inicio da competição eu o procurei nas arquibancadas, mas para minha infelicidade ele não estava lá. Como tem o hábito de beber muito achei que em comemoração ao primeiro dia de prêmios ele deveria ter chegado pela manhã após ficar a noite em tavernas.

Horas bordando e quando ganhei, para minha grande surpresa, eu o procurei para comemorar comigo. Eu poderia mostrar para a professora que não era masculinizada como ela dizia e para ele, eu queria ver o orgulho, pois também realizei uma competição bem... feminina.

Empolgado ainda pelo fato d’eu ter falado que o ajudaria a conquistar o coração de minha amiga Vesgo me levantou no ar, comemorando. Foi quando consegui finalmente achá-lo e, para minha surpresa, ele estava vermelho, o rosto fechado. E por que ele não estaria, era outro homem que me levantava.

A cada dia que passava eu percebia que meus sentimentos por Matthew de Aldearan eram mais fortes do que eu imaginava que uma jovem como eu poderia sentir. Sei que além da idade, ele é meu professor, mas acho que ele também me vê com outros olhos. Assim eu espero e por isso estou aqui na rua. Mal eu me vi livre das atenções sai correndo procurando-o.

Foi um erro deixar Vesgo se aproximar tanto, mas eu não o tinha visto chegar.

Sem pensar se falariam ou não, aproveitei que a estalagem estava vazia e fui até o quarto dele. Bati com muita força, mas não houve resposta.

Droga! Não acredito no que estou fazendo, damas não devem ir atrás dos homens... E se ele me achar desfrutável?

Ignorando o que minha mente tenta me amedrontar, sigo para o lugar mais provável de achá-lo, o lugar onde eu não gostaria de encontrá-lo. A taverna da vila não fica na rua principal. Serei discreta, não podem me ver andar para um lugar daqueles...

Como a vila é pequenina, chego em poucos minutos e, para minha sorte, consigo ver quase tudo sem precisar entrar. É um lugar feio e vejo que há somente homens lá dentro. Não entendo o que eles podem estar fazendo tão cedo em um local desses...

Eu o vejo, está sentado em uma mesa ao canto. A garrafa a sua frente está pela metade. É por minha causa?

Sinto como se meu coração ficasse pequeno ao vê-lo assim. Como dizer a ele que eu queria muito poder tirá-lo de lá, dizer que ele não precisa mais dessas bebidas. Que se estiver cansado eu posso fazer uma massagem para que relaxe?

Estou nervosa e não sei o que fazer. Não sei se devo chamá-lo. Seria errado, existem muitos professores de outras escolas por aqui e ele é um esgrimista famoso, eu acabaria expondo-o. Devo me segurar e esperar por outro momento.

Olho uma ultima vez antes de sair e para minha surpresa vejo quem esta atendendo a ele. Ela... É uma mulher e pelos trajes, ou falta deles, voluptuosa e oferecida.

Olho para baixo, não quero ver isso.

Melhor... Sair...

*****

Matthew POV

Ele a levantou nos braços e, naquele gesto, tomou o que eu já dava certo como meu. Ela sorria para ele. Estava feliz por ter ganho aquela estúpida competição que eu a encorajei para participar.

Bordado. Eu perdi duas horas da minha vida para assisti-la bordando para uma banca de juízes ineptos e com uma paciência infinitamente maior do que a minha. E lá estava ela, erguida nos braços de outro homem. Senti-me um tolo.

Ainda a encarei por alguns segundos, decidindo-me o que iria fazer, controlando-me para não me atirar naquele maldito moleque vesgo e arranca-la de seus braços indignos. Deliberei que um homem apaixonado é sobretudo um imbecil e decidi que nada cura um coração magoado como a bebida.

Não se pode confiar em pessoas para faze-lo tão feliz quando numa boa garrafa de whisky.

Estava para arredar o pé dali quando senti que ela me olhava. Voltei-me para ela por um único instante e deixei-me perder naquele rosto angelical e cabelo de fogo. Um riso do rapaz que a segurava me fez lembrar que ela não era minha para assim encarar.

Virei as costas e fui embora. Passei na estalagem para apanhar moedas o suficiente para me manter alcoolizado a noite inteira. Segui para o bar sem realmente pensar, deixando que meus sentidos divagassem.

Eu a queria tanto.

Fui atendido sem demora na taverna. Minha fama definitivamente me precedia: mandaram apenas o seu melhor estoque de bebidas e eu o apreciei sem moderação. Ansiava, principalmente pelo esquecimento e pelo sono.

A atendente era bonita. Usava quase nenhuma vestimenta, o que me levava a pensar que ela tinha um trabalho duplo ali. Vi quando ela se ofereceu para mim, mas como um espectador que vê tudo acontecer de muito longe.

Não sei o que todos ao meu redor imaginaram, mas sem pensar duas vezes, eu recusei seus serviços. Não poderia ter ficado com qualquer mulher naquela noite, especialmente uma ruiva. Não, a única ruiva, a única mulher que eu realmente queria naquela noite – e, honestamente, no resto de minha vida – tinha ficado para trás. Nos braços de um moleque novo, indigno e vesgo.


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