segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Capítulo 18

Mira olhou em volta no seu quarto e viu suas outras colegas de quarto arrumando seus pertences. Ela nem acreditava que estava ali, no primeiro intercolegial misto que aconteceria na Europa. Somente duas alunas além dela aceitaram, apesar dos diretores terem se responsabilizado pessoalmente pela segurança das meninas.

Elas tinham menos de 15 minutos para arrumar seus pertences e descer para se encontrar com a professora Hostila Griffyndor, responsável por elas.

- Melhor andarmos logo ou a professora pode acabar nos castigando por fazê-la esperar. Isso seria algo indelicado de nossa parte. – Lyra, a aluna da Corvinal falou imitando o rosto da professora, o que fez as outras duas rirem.

As outras concordaram e rapidamente desceram as escadas da hospedaria se aprumando ao chegarem à sala, tinham que entrar andando calmamente.

Em uma mesa estava a professora responsável por elas conversando com Matthew de Aldearan, responsável pelos rapazes. Na frente deles alguns pergaminhos estavam abertos e eles claramente falavam sobre o que estava ali e pelos símbolos podia-se perceber que era sobre o Torneio.

As três jovens pararam ao lado da professora e nada falaram, não poderiam interrompê-la. Um leve sorriso surgiu nos lábios de Matthew ao ver Mira ali, quieta e bem comportada. A vontade da lufana em competir era tão grande que aceitara acatar todas as ordens da rígida professora.

- Tuas alunas chegaram. – Ele falou para a professora. – Como o assunto é de interesse delas, acho que deveríamos compartilhá-lo.

- Sim, concordo. – Griffyndor virou o rosto para as garotas. - Se aproximem e ouçam, falarei somente uma vez. Na metade das competições femininas estamos sem representante, pois, como sabem, as outras alunas não quiseram vi. – A professora omitiu o fato que para ela nenhuma garota deveria ter ido. – Então estávamos vendo se vós gostaríeis de competir em outra atividade além da que fostes inscritas antes.

O professor virou o pergaminho com as competições em que eram permitidas garotas. Mira iria competir em montaria, que teria a final mista; Lyra em canto e Mary em culinária, estas duas competições eram exclusivas para mulheres. Elas poderiam competir entre si, se quisessem, além de se inscrever em esgrima, bordado e arco e flecha.

- Bom... Admito que gosto de praticar arco e flecha... – Lyra falou olhando para baixo, sabia que a professora a olhava reprovando a conduta. – Eu iria gostar de competir nessa modalidade, mesmo sendo mista.

A professora somente crispou os lábios olhando com desgosto para a jovem que iria competir em arco e flecha.

- Viu Hostila, foi como eu disse. – O professor de esgrima falou. – Elas sabem o que podem competir, mesmo que não sejam tão boas quantos nossos garotos. Estão cientes que irão mostrar que mulheres não podem competir em pé de igualdade com nenhum homem, principalmente os treinados por mim.

As três olharam atravessado para o professor. Ele praticamente falara que elas não tinham chance contra algum rapaz. Algo que as três podiam afirmar que tinham em comum era que elas queriam competir como iguais. Mesmo que não tinham tido coragem de escolher uma competição mista.

- Eu até poderia tentar esgrima. - Mary falou. – Mas acho que Mira seria a melhor de nós nisso. Eu já a vi treinar nos jardins com aquela sonserina que ganhou em Hogwarts...

Os olhos dos presentes se voltaram para a ruiva que se viu tendo que responder a idéia da colega. Internamente ela admitia que pensara justamente em competir naquela modalidade.

- Bom eu... - Mira começou a falar, mas foi interrompida por Matthew.

- Devido ao corte que tivera no braço anteriormente, Lady Barlow não poderá competir em esgrima. Estar competindo em montaria já esta sendo uma exceção, os dois já é algo fora de cogitação. - O mestre de esgrima falou seriamente para a professora a sua frente.

Mira olhou para Matthew tentando entender o que ele estava fazendo, mas em nenhum momento ele virou o rosto para ela. Não querendo contradizê-lo ela afirmou o que ele falara.

- Além disso, eu estava pensando em competir em bordado, se for possível. – A ruiva falou baixo. – Eu não devo forçar meu braço.

- Está decidido então que cada uma irá competir em outra modalidade. – O professor falou ao se levantar. – Não há mais o que eu deva fazer aqui. Milady devo acompanhá-la a enfermaria do Torneio para confirmarmos se estais em condições de competir. Siga-me!

O tom de voz utilizado por Matthew não dava margem a discussões ou dúvidas, nem da professora, nem das alunas e menos ainda da ruiva que andou rapidamente atrás do homem. Sabendo que era observada enquanto estivesse na hospedaria, Mira andou alguns passos atrás do professor.

Poucos metros de distância, perto de onde seriam as competições, estava a pequena casa onde ficava a enfermaria.

Matthew evitou olhar no rosto da aluna enquanto estavam em público, mas assim que ficaram fora do alcance de visão da professora Hostilia e de outros, ele a pegou pelo braço e a puxou para a primeira sala vazia que encontrou.

- Não a deixei competir para seu próprio bem. - Ele disse. Matthew sabia que não poderia ficar ali muito tempo. - Não é bom que a vejam com uma habilidade tão grande em lutas que não são próprias para mulheres. Esses torneios femininos são uma falácia, feita para ocupar a mente das moças rebeldes que os pais não souberam controlar. Nenhuma ali sabe o que está fazendo – apenas ficam brandindo pedaços de ferro por aí. Tu, pelo contrário, és a minha menina-dos-olhos. Não quero que descubram o que fiz com você ... ainda.

Mira corou ao ouvi-lo chamando-a de menina dos olhos. Havia um quê de afeto no que ele dizia. Ele sorriu ao vê-la enrubescer e ficou feliz pelo fato de que havia algo nele que a deixava desse jeito.

- Eu até pensei em competir, mas depois mudei de idéia. Achei que era muito cedo pra ficar expondo o que aprendi e machucar alguém...

Matthew ia interrompê-la naquele instante, pois desde sempre a havia ensinado: essa coisa de esgrima esportiva era uma falácia. Se aprendia a usar a espada era para machucar alguém: seja em auto-defesa, em defesa da honra ou em proteção a algum desamparado. Não havia esgrima amigável. Ia lembrá-la disso quando a ouviu completar:

- ... que não tivesse a menor chance de se defender.

“É justo”, ele pensou. Sua garota era uma moça justa, correta, especial. Seu ego inflou de orgulho ao saber que não estava transportando seus conhecimentos para a mente errada. Ela tinha um potencial enorme.

- Folgo ao saber que assim pensavas. - Ele falou, em tom de aprovação. - É bom agora passarmos verdadeiramente na enfermaria, ou podem pensar que estamos metidos em alguma coisa imprópria.

Mira notou que era a segunda vez que ele sugeria algo assim – A primeira fora naquele dia da clareira na floresta, quando conversaram como iguais. Até parecia que ele traía sua mente, revelando que gostaria que algo impróprio acontecesse. Mas provavelmente não, talvez o professor só estivesse salvaguardando sua honra. Era um homem direito – até certo ponto onde ela preferia enxergar. – e talvez por isso o admirasse...

Seguiram os dois para a enfermaria e enquanto ele preparava-se para deixá-la aos cuidados de uma moça de olhos muito tontos ouviu-se dizendo com um tom irônico:

- E espero que me traga muito orgulho na sua competição de bordado...

Sorrindo então, ele fechou a porta.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Capítulo 17

Apesar de a caravana ter saído mais tarde do que o esperado por ele, estavam quase dentro do horário esperado. Matthew apressara a todos e em alguns momentos do caminho eles correram.

A manhã passara rapidamente, inclusive para o Mestre de Esgrima que liderava a todos até Sheffield. Ele achou que iria aproveitar cada minuto que estivesse perto de Mira, que estava em seu cavalo, mas percebeu que se enganara. O que ele não esperava era que a garota nem se encostava a ele. Fora nos momentos em que o cavalo correu ela não se segurara no professor.

Todos pararam para almoçar e o professor estendeu a mão para ajudar a ruiva a descer do cavalo. Ele reparou que Mira não olhou para ele, fazendo tudo friamente.

- Com licença, irei me juntar às outras alunas. - Com uma mesura extremamente formal ela falou.

Como não houve resposta do professor, Mira assentiu com a cabeça e se afastou. Dentro dela estava uma confusão de sentimentos, estava chateada como fora tratada e principalmente magoada por Matthew gritar com ela. Esse último sentimento fez com que, durante a manhã toda, refletisse porque reagia assim às ações dele.

Seu orgulho não a deixava falar com ele, nem tocá-lo ela queria. Não tivera opção em alguns momentos, mas sempre que possível se afastara.

Tudo isso não passou despercebido do homem que olhou a garota se afastar dele, andando até a carruagem. Matthew se perguntou se exagerara mais cedo, pois nunca a vira assim. Ele já brigara com ela antes, já aumentara seu tom de voz do mesmo modo, mas sempre estavam somente os dois.

Após pouco tempo o professor falou que era para recolhessem tudo, tinham pouco tempo e Obedientemente, todos rapidamente se levantaram e Mira viu que teria que ir novamente com seu professor.

Ao contrário de quando se afastou, ela fitou diretamente os olhos de Matthew enquanto se aproximava. Sabia que errara antes, mas o que ele fizera com ela não fora certo. Demonstrando o que sentia, com o rosto cerrado e os lábios sérios, ela parou ao lado dele, como uma aluna obediente deveria fazer.

Passaram várias horas até que chegassem e em nenhum momento ela falou nada, nem quando, nas raras vezes Matthew lhe dirigia a palavra. A resposta era somente um olhar frio vindo daqueles olhos negros que ele tanto amava.

Pouco antes do raiar do sol chegaram à cidade escolhida para abrigar o torneio inter-colegial. Fora separada uma hospedaria para cada escola e o brasão na porta indicava em qual casa os alunos de Hogwarts deveriam ficar.

Com Matthew de Aldearan à frente de todos, a caravana se dirigiu até a porta da hospedaria. Ao descer do cavalo o professor se espantou ao ver que daquela vez Mira nem aguardara sua ajuda para descer e já andava para longe dele.

Ele se pegou pensando no que poderia dizer pra ela. Já havia tentado estabelecer uma conversa durante a viagem, mas ela não havia demonstrado interesse e aquilo começava a zangá-lo e, pior, desesperá-lo. Precisava resolver essa situação antes que perdesse de vez o controle sobre ela e pusesse tudo a perder. Queria ouvir Mira falando doce com ele novamente.

Vendo ela se afastar para entrar na hospedaria, ele fez algo que não esperava. Matthew depois diria que foi reflexo do seu corpo. Ele segurou o braço dela e fez com que ficasse atrás das outras alunas. Os rapazes se afastaram, pois acharam que ele daria um novo sermão na lufana.

- Desça depois para conversarmos. – Ele falou baixo. Ao ver que não havia reação dela ele complementou. – Por favor.

Mira soltou seu braço e com uma reverência se afastou deixando um homem agoniado esperando sua resposta.

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Não era tão tarde assim, mas era o suficiente para que uma dama não devesse sair da cama. Mira ficara acordada esperando que suas companheiras de quarto adormecessem para que pudesse sair sem chamar atenção. Depois do que acontecera na noite anterior, achou que uma ou outra acabaria a seguindo caso saísse com qualquer desculpa.

A ruiva confirmou que as outras duas garotas estavam dormindo e se arrumou para sair. Apesar de estar com Matthew de Aldearan atravessado em sua garganta, Mira ficou querendo, e admitia que muito, saber o que ele queria falar com ela.

Silenciosamente ela desceu e procurou Matthew. Ele estava como ela estivera na noite anterior, sentado em uma poltrona, observando o fogo.

Mira não precisou falar nada, mal entrou na sala ele virou o rosto. Uma expressão de alivio e alegria se misturaram quando ele percebeu que ela atendera ao seu pedido. Ele a observou sentar em uma cadeira mais afastada, calada.

Matthew levantou da cadeira desconfortável. Seu nervosismo já o obrigara a tomar um copo de uísque antes de descer para o salão da hospedaria e sabia que ficara com cheiro de bebida no corpo, mas não teria coragem de se sujeitar ao que faria sem uma ajuda adicional da bebida. Entendia perfeitamente seu pai e sua mãe agora que se encontrava quase um cativo daquela menina que mal era ainda uma mulher de verdade.

O rosto frio dela o gelava por dentro e ele engasgou por um segundo antes de começar a falar, decididamente atrapalhado com as palavras, quase sem jeito, brusco:

- Notei que seu comportamento mudou desde hoje de manhã até à noite. Achei que me sentiria melhor tendo-a por perto e que mostraria que não guardo rancor do que aconteceu na estalagem, mas não havia calculado que talvez tu pudesses ter se sentido magoada com o que aconteceu.

Ele respirou fundo.

- Não pretendia ter sido tão rude com ti, mas fiquei extremamente possesso com o que aconteceu. Várias coisas me passaram pela cabeça e mil preocupações me gelaram o sangue quando descobri que não era só uma dama sumida (não que eu não fosse me preocupar com elas, veja bem, são minhas alunas e damas também), mas tu em especial. Creio que me senti mais responsável do que o normal. – Matthew fez uma pausa. - Mesmo com tuas habilidades proeminentes de esgrima, vejo que não me sentia pronto para deixá-la à mercê de somente elas. Até porque não comecei a te trabalhar contra inimigos em número - e um bandoleiro nunca está sozinho... Mas enfim, vejo que estou me enrolando e me explicando demais.

Ele tremeu um pouco de agitação e deu as costas pra ela, se apoiando na mobília.

- Tudo isso não desculpa minha rudeza na hora de me dirigir à ti mais cedo. Um cavalheiro de verdade controla suas emoções e nunca destrata uma dama e vejo que hoje nenhum de nós cumpriu à risca seu papel. - ele disse - Não deveria ter gritado.

E sentou, percebendo que era muito mais difícil do que ele pensava falar apenas "desculpas", que era seu plano original. Até agora havia evitado olhar para a moça, mas naquele momento ele resolveu fitá-la e seus olhos imploraram uma resposta.

Ao ouvir as palavras que Matthew falou, Mira se sentiu desarmada. Ainda estava sim, com um pequeno ressentimento, mas não conseguiria de modo algum o destratar. Principalmente quando ele se expunha daquele modo para ela. A cada novo dia ele a surpreendia e falar que errara anteriormente era, sim, inesperado.

Nesses últimos dias o modo dos dois se tratarem mudara e Mira percebera que seus sentimentos pelo que deveria ser só seu professor eram diferentes que uma simples admiração. Mais cedo ela ficara mais chateada porque fora ele a gritar com ela, pois se fosse outro qualquer não a atingiria do modo que acontecera.

O rosto da ruiva se acalmou e ela deu um leve sorriso para ele antes de falar.

- Estavas somente preocupado comigo? – Ela falou suavemente. – Eu queria ter te avisado mais cedo aonde ias, mas tu estavas dormindo. Não quis incomodar. – A ruiva se lembrara que ficou alguns minutos a admirar Matthew dormindo.

Mira se conteve, sentiu um impulso de se levantar e sentar mais perto dele. Queria fitar os olhos dele e perguntar se ele sentia o que ela descobria que estava sentindo. Se ele também tinha a vontade de sentir se o calor das mãos dele aqueceria as mãos dela.

- Admito que estava magoada com o modo que me trataste. Eu somente queria não ter que viajar sentada no chão da carruagem durante outro dia todo, mas entendo agora tua preocupação para comigo.

Matthew deixou escapar um leve suspiro, estava aliviado. Ele não conseguiria falar mais do que havia falado e ao mesmo tempo iria ficar louco se não tivesse uma resposta favorável da moça. Levantou-se e hesitou, pensando se deveria se sentar ao lado dela. Não queria se empolgar muito.

A ruiva sentiu seu coração bater forte ao vê-lo se aproximar, sentiu seu rosto esquentar e seu estomago gelar. Mas ao contrário de outras garotas que abaixariam o rosto, ela o observava esperando-o.

- Eu estava preocupado, não poderia me dar ao luxo de perder uma esgrimista tão boa quanto você. - e ele sorriu pensando que fizera um cumprimento que a deixaria orgulhosa.

Ao ouvir o que ele falara no final, Mira sentiu uma pontada de tristeza desconhecida em seu coração. Era para ter se sentido feliz e orgulhosa com o elogio, mas não era esse o tipo de preocupação que desejava que ele sentisse.

- Esgrimista? - Mira não conseguiu esconder a angústia ao ouvir aquilo.

- Minha menina-dos-olhos, pra falar a verdade - Ele complementou e reparou que ela não evitava o olhar dele. Percebeu que talvez estivesse correndo as coisas, mas a adrenalina tomava conta das veias dele e ele queria ver até onde ele poderia chegar naquela noite. - Tenho orgulho de quem tu és. Não só na esgrima, mas como realmente és.

Ela foi tomada por um rubor e Matthew sentiu-se recompensado internamente. Adorava vê-la corar, especialmente com o que ele dizia - e dessa vez ele sabia que havia tocado um ponto fraco. Duvidava que a moça tivesse esquecido o discurso absurdo de professora Gryffindor e inflara seu ego ali, falando a verdade: gostava dela como a mulher que era. Sorriu para a jovem e olhou para a janela, notou que as estrelas já estavam adiantadas. O primeiro dia do torneio não tardaria a raiar. Deveriam dormir e isso porque ele ainda deveria tomar um bom banho antes de deitar.

- É tarde. - ele disse. - Deixe-me que dessa vez, eu vou acompanhá-la até lá em cima. Não quero correr riscos novamente.

Mira riu ao ouvir aquilo. Ela assentiu e se levantou esperando-o.

Ele fez uma mesura e a deixou subir na frente, roçando levemente sua mão na cintura dela quando ela passou. Seu pensamento se inflamou e ele se sentiu tentado a pegá-la no colo e levá-la para seu quarto, mas controlou-se. Antes de deixá-la na segurança de seu quarto, tomou de assalto sua mão e depositou um beijo nela que o fez tremer por inteiro.

- Boa noite. É bom que descanse bem...

E virou-se para ir embora, sem reparar que ela ainda continuava à porta o observando sair, com a mão parada no mesmo lugar, enquanto ele pensava apenas naquele toque macio e no cheiro docinho que vinha dela...