terça-feira, 15 de setembro de 2009

Capítulo 17

Apesar de a caravana ter saído mais tarde do que o esperado por ele, estavam quase dentro do horário esperado. Matthew apressara a todos e em alguns momentos do caminho eles correram.

A manhã passara rapidamente, inclusive para o Mestre de Esgrima que liderava a todos até Sheffield. Ele achou que iria aproveitar cada minuto que estivesse perto de Mira, que estava em seu cavalo, mas percebeu que se enganara. O que ele não esperava era que a garota nem se encostava a ele. Fora nos momentos em que o cavalo correu ela não se segurara no professor.

Todos pararam para almoçar e o professor estendeu a mão para ajudar a ruiva a descer do cavalo. Ele reparou que Mira não olhou para ele, fazendo tudo friamente.

- Com licença, irei me juntar às outras alunas. - Com uma mesura extremamente formal ela falou.

Como não houve resposta do professor, Mira assentiu com a cabeça e se afastou. Dentro dela estava uma confusão de sentimentos, estava chateada como fora tratada e principalmente magoada por Matthew gritar com ela. Esse último sentimento fez com que, durante a manhã toda, refletisse porque reagia assim às ações dele.

Seu orgulho não a deixava falar com ele, nem tocá-lo ela queria. Não tivera opção em alguns momentos, mas sempre que possível se afastara.

Tudo isso não passou despercebido do homem que olhou a garota se afastar dele, andando até a carruagem. Matthew se perguntou se exagerara mais cedo, pois nunca a vira assim. Ele já brigara com ela antes, já aumentara seu tom de voz do mesmo modo, mas sempre estavam somente os dois.

Após pouco tempo o professor falou que era para recolhessem tudo, tinham pouco tempo e Obedientemente, todos rapidamente se levantaram e Mira viu que teria que ir novamente com seu professor.

Ao contrário de quando se afastou, ela fitou diretamente os olhos de Matthew enquanto se aproximava. Sabia que errara antes, mas o que ele fizera com ela não fora certo. Demonstrando o que sentia, com o rosto cerrado e os lábios sérios, ela parou ao lado dele, como uma aluna obediente deveria fazer.

Passaram várias horas até que chegassem e em nenhum momento ela falou nada, nem quando, nas raras vezes Matthew lhe dirigia a palavra. A resposta era somente um olhar frio vindo daqueles olhos negros que ele tanto amava.

Pouco antes do raiar do sol chegaram à cidade escolhida para abrigar o torneio inter-colegial. Fora separada uma hospedaria para cada escola e o brasão na porta indicava em qual casa os alunos de Hogwarts deveriam ficar.

Com Matthew de Aldearan à frente de todos, a caravana se dirigiu até a porta da hospedaria. Ao descer do cavalo o professor se espantou ao ver que daquela vez Mira nem aguardara sua ajuda para descer e já andava para longe dele.

Ele se pegou pensando no que poderia dizer pra ela. Já havia tentado estabelecer uma conversa durante a viagem, mas ela não havia demonstrado interesse e aquilo começava a zangá-lo e, pior, desesperá-lo. Precisava resolver essa situação antes que perdesse de vez o controle sobre ela e pusesse tudo a perder. Queria ouvir Mira falando doce com ele novamente.

Vendo ela se afastar para entrar na hospedaria, ele fez algo que não esperava. Matthew depois diria que foi reflexo do seu corpo. Ele segurou o braço dela e fez com que ficasse atrás das outras alunas. Os rapazes se afastaram, pois acharam que ele daria um novo sermão na lufana.

- Desça depois para conversarmos. – Ele falou baixo. Ao ver que não havia reação dela ele complementou. – Por favor.

Mira soltou seu braço e com uma reverência se afastou deixando um homem agoniado esperando sua resposta.

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Não era tão tarde assim, mas era o suficiente para que uma dama não devesse sair da cama. Mira ficara acordada esperando que suas companheiras de quarto adormecessem para que pudesse sair sem chamar atenção. Depois do que acontecera na noite anterior, achou que uma ou outra acabaria a seguindo caso saísse com qualquer desculpa.

A ruiva confirmou que as outras duas garotas estavam dormindo e se arrumou para sair. Apesar de estar com Matthew de Aldearan atravessado em sua garganta, Mira ficou querendo, e admitia que muito, saber o que ele queria falar com ela.

Silenciosamente ela desceu e procurou Matthew. Ele estava como ela estivera na noite anterior, sentado em uma poltrona, observando o fogo.

Mira não precisou falar nada, mal entrou na sala ele virou o rosto. Uma expressão de alivio e alegria se misturaram quando ele percebeu que ela atendera ao seu pedido. Ele a observou sentar em uma cadeira mais afastada, calada.

Matthew levantou da cadeira desconfortável. Seu nervosismo já o obrigara a tomar um copo de uísque antes de descer para o salão da hospedaria e sabia que ficara com cheiro de bebida no corpo, mas não teria coragem de se sujeitar ao que faria sem uma ajuda adicional da bebida. Entendia perfeitamente seu pai e sua mãe agora que se encontrava quase um cativo daquela menina que mal era ainda uma mulher de verdade.

O rosto frio dela o gelava por dentro e ele engasgou por um segundo antes de começar a falar, decididamente atrapalhado com as palavras, quase sem jeito, brusco:

- Notei que seu comportamento mudou desde hoje de manhã até à noite. Achei que me sentiria melhor tendo-a por perto e que mostraria que não guardo rancor do que aconteceu na estalagem, mas não havia calculado que talvez tu pudesses ter se sentido magoada com o que aconteceu.

Ele respirou fundo.

- Não pretendia ter sido tão rude com ti, mas fiquei extremamente possesso com o que aconteceu. Várias coisas me passaram pela cabeça e mil preocupações me gelaram o sangue quando descobri que não era só uma dama sumida (não que eu não fosse me preocupar com elas, veja bem, são minhas alunas e damas também), mas tu em especial. Creio que me senti mais responsável do que o normal. – Matthew fez uma pausa. - Mesmo com tuas habilidades proeminentes de esgrima, vejo que não me sentia pronto para deixá-la à mercê de somente elas. Até porque não comecei a te trabalhar contra inimigos em número - e um bandoleiro nunca está sozinho... Mas enfim, vejo que estou me enrolando e me explicando demais.

Ele tremeu um pouco de agitação e deu as costas pra ela, se apoiando na mobília.

- Tudo isso não desculpa minha rudeza na hora de me dirigir à ti mais cedo. Um cavalheiro de verdade controla suas emoções e nunca destrata uma dama e vejo que hoje nenhum de nós cumpriu à risca seu papel. - ele disse - Não deveria ter gritado.

E sentou, percebendo que era muito mais difícil do que ele pensava falar apenas "desculpas", que era seu plano original. Até agora havia evitado olhar para a moça, mas naquele momento ele resolveu fitá-la e seus olhos imploraram uma resposta.

Ao ouvir as palavras que Matthew falou, Mira se sentiu desarmada. Ainda estava sim, com um pequeno ressentimento, mas não conseguiria de modo algum o destratar. Principalmente quando ele se expunha daquele modo para ela. A cada novo dia ele a surpreendia e falar que errara anteriormente era, sim, inesperado.

Nesses últimos dias o modo dos dois se tratarem mudara e Mira percebera que seus sentimentos pelo que deveria ser só seu professor eram diferentes que uma simples admiração. Mais cedo ela ficara mais chateada porque fora ele a gritar com ela, pois se fosse outro qualquer não a atingiria do modo que acontecera.

O rosto da ruiva se acalmou e ela deu um leve sorriso para ele antes de falar.

- Estavas somente preocupado comigo? – Ela falou suavemente. – Eu queria ter te avisado mais cedo aonde ias, mas tu estavas dormindo. Não quis incomodar. – A ruiva se lembrara que ficou alguns minutos a admirar Matthew dormindo.

Mira se conteve, sentiu um impulso de se levantar e sentar mais perto dele. Queria fitar os olhos dele e perguntar se ele sentia o que ela descobria que estava sentindo. Se ele também tinha a vontade de sentir se o calor das mãos dele aqueceria as mãos dela.

- Admito que estava magoada com o modo que me trataste. Eu somente queria não ter que viajar sentada no chão da carruagem durante outro dia todo, mas entendo agora tua preocupação para comigo.

Matthew deixou escapar um leve suspiro, estava aliviado. Ele não conseguiria falar mais do que havia falado e ao mesmo tempo iria ficar louco se não tivesse uma resposta favorável da moça. Levantou-se e hesitou, pensando se deveria se sentar ao lado dela. Não queria se empolgar muito.

A ruiva sentiu seu coração bater forte ao vê-lo se aproximar, sentiu seu rosto esquentar e seu estomago gelar. Mas ao contrário de outras garotas que abaixariam o rosto, ela o observava esperando-o.

- Eu estava preocupado, não poderia me dar ao luxo de perder uma esgrimista tão boa quanto você. - e ele sorriu pensando que fizera um cumprimento que a deixaria orgulhosa.

Ao ouvir o que ele falara no final, Mira sentiu uma pontada de tristeza desconhecida em seu coração. Era para ter se sentido feliz e orgulhosa com o elogio, mas não era esse o tipo de preocupação que desejava que ele sentisse.

- Esgrimista? - Mira não conseguiu esconder a angústia ao ouvir aquilo.

- Minha menina-dos-olhos, pra falar a verdade - Ele complementou e reparou que ela não evitava o olhar dele. Percebeu que talvez estivesse correndo as coisas, mas a adrenalina tomava conta das veias dele e ele queria ver até onde ele poderia chegar naquela noite. - Tenho orgulho de quem tu és. Não só na esgrima, mas como realmente és.

Ela foi tomada por um rubor e Matthew sentiu-se recompensado internamente. Adorava vê-la corar, especialmente com o que ele dizia - e dessa vez ele sabia que havia tocado um ponto fraco. Duvidava que a moça tivesse esquecido o discurso absurdo de professora Gryffindor e inflara seu ego ali, falando a verdade: gostava dela como a mulher que era. Sorriu para a jovem e olhou para a janela, notou que as estrelas já estavam adiantadas. O primeiro dia do torneio não tardaria a raiar. Deveriam dormir e isso porque ele ainda deveria tomar um bom banho antes de deitar.

- É tarde. - ele disse. - Deixe-me que dessa vez, eu vou acompanhá-la até lá em cima. Não quero correr riscos novamente.

Mira riu ao ouvir aquilo. Ela assentiu e se levantou esperando-o.

Ele fez uma mesura e a deixou subir na frente, roçando levemente sua mão na cintura dela quando ela passou. Seu pensamento se inflamou e ele se sentiu tentado a pegá-la no colo e levá-la para seu quarto, mas controlou-se. Antes de deixá-la na segurança de seu quarto, tomou de assalto sua mão e depositou um beijo nela que o fez tremer por inteiro.

- Boa noite. É bom que descanse bem...

E virou-se para ir embora, sem reparar que ela ainda continuava à porta o observando sair, com a mão parada no mesmo lugar, enquanto ele pensava apenas naquele toque macio e no cheiro docinho que vinha dela...

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