segunda-feira, 27 de abril de 2009

Capítulo 06


Enquanto caminhava para a sala de aula de esgrima, Mira olhava na sua mão o pequeno pedaço de pergaminho que seu professor a passara discretamente durante a aula de História Antiga. Ela não podia deixar de aproveitar a chance de ter aula com um dos melhores esgrimistas ainda vivo, mas tinha receios, principalmente em relação ao pagamento que ele tinha pedido.

“Empregada, vou ser empregada para aprender esgrima... Ele não quer que os criados da escola arrumem suas coisas, mas uma aluna sim. Homens...”

Deu os ombros, era um bom preço a pagar se ele realmente a ensinasse como faz com seus alunos. Ela já ouvira alguns rapazes comentando sobre a rigidez e a cobrança do professor e ao mesmo tempo elogiando o quão bom Matthew de Aldearan é. Com aulas particulares com ele, Mira tinha certeza que aprenderia muito e rapidamente. Iria adorar fazer com que ele admitisse que uma mulher poderia ser tão boa em esgrima quanto um homem.

Mira bateu na porta devagar e, após ouvir a voz de seu professor, entrou. Aldearan marcara aula às seis da manhã, evitando assim que pessoas inconvinientes aparecessem e os vissem. Ele sabia que sábado tão cedo ninguém além dele e, agora, de sua nova aluna de esgrima estaria de pé.

Matthew estava com dor de cabeça. Passara a noite toda bebendo parte do estoque de sua adega particular, nervoso e ansioso com o fato de que na manhã seguinte encontraria ela em seus aposentos. Não deveria ter feito isso, é claro, mas logo sua ressaca passaria, já tomara a poção que ele mesmo preparava e engarrafava para essas ocasiões.

Sorriu ao vê-la entrar, cautelosa como uma gata em território alheio – seu território. O aposento estava uma mescla entre bagunça mal disfarçada e vários objetos que ele não tivera tempo de arrumar.

- Espero que tenhas te preparado adequadamente para a aula, Lady Barlow. – Ele disse-lhe à guisa de bom dia.

- Sim, senhor. – Ela respondeu, abaixando levemente a cabeça. – Tomei a liberdade de trazer minha própria espada.

Ele não respondeu e tomou a bainha das mãos dela, tirando delicadamente à espada. Estava zonzo, mas podia perceber que aquilo era um bom trabalho, embora as armas que ele tinha a disposição fossem, de longe, superiores. Sabia, entretanto, que se a jovem tivera coragem de trazer sua própria espada para a aula, ela deveria ter um significado especial e isso era algo que nenhuma outra poderia superar.

- Treinaremos na sala superior a este aposento milady e, de hoje em diante, tu sobes por esta escadaria em meu gabinete. – Matthew disse apontando para uma frágil escada de corda para ela. – Todo cuidado é pouco para manejar essa corda, mas como ensinou-me meu mestre: não basta saber destruir ao seu redor para um boa luta, mas respeitar e conservar o que é útil e bom é uma graça que não pode-se abrir mão.

Mira assentiu enquanto focava os olhos no professor que ainda parecia meio atordoado, embora não a ponto de não subir a corda com apenas dois passos largos e graciosos. Ele carregava a espada com a bainha verde água nas costas. Ela tentou seguir-lhe os passos, dando dois largos saltos e teve que ser segura pelas mãos calejadas de seu mestre.

- O segredo, milady, não é imitar o mapa do sucesso de outrem, e sim, criar seu próprio, adaptado aos seus conhecimentos e suas limitações. – Ele aconselhou-a enquanto puxava-a para cima.

O aposento era razoavelmente grande. Havia nele várias almofadas cinzas espalhadas, estantes com livros, uma divisória com uma mesa e duas cadeiras – que despertaram em Mira a sensação de que suas aulas envolveriam muito mais do que simples combate. Vários modelos de espadas estavam dependurados nas quatro paredes, muito bem seguras por feitiços de proteção. Eram o amor de seu professor e provavelmente, suas mais fiéis companheiras.

A moça olhou ao seu redor com um misto de respeito e orgulho. Queria fazer parte daquela sala, parte da história de aprendizes do mestre: como ela via em um canto o orgulho que o professor tinha em exibir seus ex-alunos campeões.

Matthew pigarreou e chamou a atenção dela para si, despertando-a do devaneio de quem poderia ter sido aquela primeira mulher a ser aprendiz do orgulhoso mestre.

- Não espero ter que explicar-te como deves se comportar em minhas lições. Não quero que te distraias, prestes atenção em cada palavra, em cada movimento.

E sem mais nem menos, cortou um pedaço de madeira ao longe.

- Vês?

Ela boquiabriu-se.

- Como fez isso, senhor?

- Apenas com técnicas que aprenderas se superares minha expectativa. – ele respondeu.

Não respondeu que se tratava de uma personificação de sua espada, não disse que era a combinação ideal e ilegal que se fazia entre espada e varinha. Quem disse que ele se importava com regras, de qualquer forma?

Mira olhou seriamente para Matthew e depois abaixou o rosto, humildemente.

- Que eu preciso fazer para aprender finalmente? – ela perguntou para ele, com um pouco de raiva de si por estar fazendo aquilo, mas sabia que valeria a pena segurar sua língua e seu pensamento.

Os olhos de Matthew brilharam com as milhares de possibilidades de resposta que ele poderia dar.

- Treinar, minha aprendiz. Treinar e treinar e dedicar-se de alma para com a espada. Que ela seja a extensão de seu braço, a reflexão de sua essência, à serviço de Deus. – Ele respondeu e, contendo-se para não adicionar outros tantos elementos, deu por encerrada a parte teórica da aula, passando a próxima uma hora com os exercícios básicos e aperfeiçoando a técnica mais simples de sua aluna.

Sorriu, satisfeito consigo mesmo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Capítulo 05


Mira fechava a porta da sala onde acabara de ter seu segundo encontro do clube de esgrima feminino. Como sempre, Lavinia falou que arrumaria tudo sozinha e que a amiga poderia ir para sua casa. A lufana sabia que era o modo da outra ficar um pouco sozinha, refletindo, ela sempre fez isso. Respeitando o pedido da sonserina, a ruiva somente saiu e andou devagar pelos corredores. Ela estava feliz, todas as garotas voltaram e estavam mais participativas.

Com um sorriso no rosto Mira lembrou que estava começando a manejar a esgrima com a mão esquerda, não caiu nenhuma vez. Não queria ficar parada o tempo todo durante as aulas e achou que isso poderia ser algo bom para o futuro, quem sabe aprender a usar as duas mãos simultaneamente. Claro que algumas vezes teve que usar a mão direita, mas não tinha sido nada que forçasse muito e seu curativo estava intacto.

Longe da dali, Matthew de Aldearan sentiu um incômodo enquanto trabalhava na correção dos vários pergaminhos sobre a "Primeira Revolução Globiliana e as várias teorias de separação do que seria a raça dos goblins da mutação élfica doméstica". Não era uma dor comum, era um ponto em específico do seu corpo. O átrio direito ardia, como se estivesse a ponto de rasgar.

- Aquela delinqüente está prestes a abrir o ferimento de novo.... - ele resmungou para si mesmo.

Era uma conseqüência do feitiço de vigilância que colocara na infame Lady Barlow: seu coração doeria a níveis absurdos quando a vigiada estivesse tentando quebrar as regras pré-estabelecidas. Era um preço a se pagar por tirar a liberdade de ir e vir da pessoa: o feitiço consumiria a pessoa por dentro enquanto a cura da pessoa não fosse achada. Anos atrás, tal feitiço, chamado de 'Maldição de Arestes', era usado por reis desesperados com doenças incuráveis com seus médicos. Enquanto a doença do rei não passasse, o feitiço consumiria o coração de seus doutores, entretanto, o rei seria monitorado de perto por este. Muitos gênios morreram assim em eras perdidas.

Matthew achava que era um preço justo a pagar pela saúde de sua 'protegida.' E por isso, não deveria ignorar aquela explosão em seu coração: parou o que estava fazendo e foi na direção que instintivamente sabia.

Não demorou a encontrar a jovem responsável pela sua pequena dor andando com um sorriso no rosto. Estava claro que fizera algo irresponsável como da outra vez, quando teimou em participar do torneio de montaria, mas ele não pode deixar de pensar em como aquele sorriso deixava aquele rosto ainda mais encantador.

A ruiva parou ao ver seu professor de História andando em sua direção e seu rosto aparentava algo que naquela distância não conseguia distinguir. Não conseguindo conter a pontada de preocupação que sentia Mira andou até ele que parecia estar sentindo dor.

- Lady Barlow, que prazer em revê-la... - Matthew se aproximou de Mira com um meio-sorriso no rosto, apertando as mãos de dor. - Está saindo de alguma aula, menina?

- Boa tarde professor. Estava com uma amiga agora a pouco. Por quê? Precisa de algo? - A lufana imaginou se estava com o rosto vermelho ou algo que entregasse o que estivera fazendo realmente.

- Vim perguntar-te como anda seu braço... - Ele respondeu, com os olhos faiscando.

Mira instintivamente soube que ele a estava analisando e virou os olhos, certamente ele não estava sentindo nada se estava ali para inquisi-la. Estava querendo pedir para ele ser mais direto e não contornar na pergunta, mas sabia que poderia ser repreendida pelo modo de falar. Isso a fazia ter mais certeza que os pequenos encontros clandestinos poderiam se tornar algo útil para futuras alunas.

- Está bem, como podes ver. - Mira estendeu o braço, mostrando a atadura feita por ele

- Lady então, está me chamando de cego. - Matthew respondeu, com um sorriso sacana. - Cego, Lady, só sua amiga Laila. Pelo que EU vejo, a Lady anda forçando demais esse braço...

- Aimeumerlin... - A ruiva calou antes que continuasse. Iria ficar quieta, deixando ele falar o que quisesse e insinuando o que quisesse.

- Pergunto-me eu, com o quê. - Ele disse com sua língua de serpente. - Afinal, EU mesmo me encarreguei de pedir aos seus professores que não sobrecarregassem na carga de atividades físicas...

A lufana levantou seu braço direito, ele estava perfeito. Não sentia latejar, doer e nem via uma gota de sangue no pano. Não entendia como ele poderia saber algo. Mesmo com o feitiço que ele colocara, ela não sentia nada.

- O que vês de errado? - Ela perguntou

- O que eu vejo de errado? - O professor perguntou, sarcástico. - Tudo. Eu vejo que você andou usando seu braço para movimentos repetidos, porque, quando anda, ele não fica na inclinação perfeita normal, ele se estende ao máximo, exausto. Eu vejo que o ferimento parece se fechar de fora pra dentro e provavelmente, você terá uma hemorragia interna se continuar lutando com ele...

A menina arrepiou-se toda quando ele usou a palavra lutar. Ele sabia do Clube?! Mas como? Ninguém poderia ter vazado com a informação, ninguém. Ainda mais tão cedo, não fazia nem duas semanas que começaram.

Matthew sorriu ao ver que sua semente produzia resultados: ela se inquietara com sua última fala, que não fora, de longe verdadeira. Não poderia contar-lhe que sentia uma dor no coração toda vez que ela estava prestes a romper seu corte, mas poderia, sim, manipulá-la para que ela contasse o que, afinal, estava fazendo para destruir seus curativos tão perfeitos.

Não que honestamente ele se importasse, Tanto mais vezes tivesse que refazer o curativo, mais vezes ficaria sozinho com aquela que ele pretendia chamar de sua, um dia.

- Então, Lady Barlow, que me diz?

- O que queres de mim para que não fales nada? - Ela o olhou esperando uma resposta tão direta quanto sua pergunta. - Se vieste falar direto comigo e não com nenhum diretor, é porque tens algo em mente. Diga-me.

Matthew ia responder quando ouviu um burburinho de alunos não muito atrás de onde eles estavam. Ele pode perceber que ela estava quase entregando o que andara fazendo, mas se qualquer aluno passasse Mira poderia escapar. Pegou a aluna pelo braço e a levou para a primeira sala vazia que encontrou, fechando a porta no caminho.

- Pronto, Lady Barlow, agora que estamos só nós dois, pode me contar que anda fazendo que não quer que ninguém saiba.

Ela o olhou incrédula, tentando entender como sempre acabava ficando a sua mercê. A ruiva repetiu o que tinha dito no corredor, queria saber o que ele pretendia com aquilo tudo.

- A Lady sabe que tenho fama de homem inteligente, e eu sei que o és também. O que eu ganharia entregando uma das minhas melhores alunas na mão de mestre Salazar Slytherin? - ele respondeu - Prefiro eu dar as cartas ao jogo, Lady. A menos que você prefira que mestre Salazar o faça. Espero que me conte o que virei a saber, cedo ou tarde.

Mira sabia que Salazar Slytherin leria a mente dela sem pensar duas vezes. Se vendo sem opção a lufana jogou seu corpo em cadeira, pensando em como somente ela entraria na encrenca. Seu professor não precisava saber de suas amigas. Procurando as palavras certas, ela contou o que estivera fazendo.

- Eu estava treinando esgrima e, antes que reclame, eu estava tentando aprender com o braço esquerdo, para não forçar o direito. Acho que troquei de braço somente duas vezes, para tentar algo mais complicado. - Mira olhou para seu professor tentando descobrir o que ele faria, além do sermão. - Pronto, podes falar. Estou esperando sua repreensão. - A ruiva o encarou, esperando a resposta.

Matthew parou por um instante ao vê-la enfrentando-o com força para tomar o esporro. Via a dedicação no olhar dela, e via que ela escondia ainda pessoas atrás de sua saia. Com o pouco de legilimência que sabia, era o que ele podia descobrir.

Um sorriso afinou-se em seus lábios quando ele preparou-se para responder.

- Repreensão? - Ele disse, com modos suaves e perigosos. - Difícil repreender alguém que sofre do mesmo mal que eu: amar a espada com todas as suas forças... Mesmo que seja uma mulher, mesmo que esteja com o braço a ponto de atrofiar e nunca mais ser usado.

Mira parou por um instante. Não conseguia acreditar nas palavras do professor, Não teria nenhuma bordoada para levar? Ele estava realmente a entendedo?

- É claro que você nunca chegará aos pés dos grandes esgrimistas homens. O jovem Santiago, por exemplo, luta como o anjo Michael fará ao descer para o Apocalipse. Você, apesar do rosto angelical, poderá ser muito boa, o suficiente para defender-se da média comum, se treinar. - Matthew ponderou, mais para si mesmo do que para ela. - E obviamente, não será nada se estiver sem um braço, como pode ver no que eu me tornei... - Ele respondeu, com raiva. - E portanto, deve parar de desobedecer aos meus cuidados!

O fato de Mira não falar nenhuma palavra ou esboçar nada em seu rosto o fez pensar se ela estava ainda pensando sobre aceitar ou não.

- A menos que não queiras ser treinada como se deve, pois, afinal, quem confiaria num treino dado por uma mulher, quando se pode treinar com Matthew de Aldearan, aquele que já foi o maior esgrimista de toda Europa? - Ele disse, enquanto insinuava o corpo para frente.

- O senhor me treinaria? - Mira perguntou baixo, boquiaberta com o fato de sua bronca ter sido muito mais leve do que pensara, na verdade praticamente nenhuma. Sua mente ainda estava trabalhando nas milhares de possibilidades que viriam do treinamento com o próprio professor de esgrima de Hogwarts

- É claro que não sairá de graça para a Lady, mas questões de pagamento podemos acertar em outra hora. - Matthew respondeu. - E assim, eu posso controlar como e quanto a Lady usa o braço direito, além de ministrar-lhe nas técnicas da luta com o braço esquerdo que, como vê, fui obrigado a ser mestre...

- Pagamento? -A ruiva engasgou, não tinha como pagar alguém do calibre de Matthew de Aldearan.

- Coisa miúda, preciso de gente para me ajudar no departamento pessoal e mulheres que saibam arrumar um quarto cheio de raridades. Não confio no pessoal do castelo para fazer isso, e, ultimamente, não tenho paciência ou estimulo para arrumar minhas coisas. - Ele respondeu, emendando com um - Não acredito que ensinarei uma mulher nas minhas artes..

Mira não conseguia acreditar que ele se dispusera a ensinar esgrima! Mesmo que, parecendo a contra-gosto, era uma oportunidade que muitos homens matariam por ter. Aquela situação toda estava sendo fora da realidade para ela. Para Matthew, entretanto era largamente vantajoso. Teria uma mucama para arrumar seu quarto, passaria horas e horas com sua protegida, ensinando-a, não só esgrima, mas, esperava, como se preparar para tornar-se mulher de Matthew de Aldearan: o porte, ela já tinha, o resto ele, não se importaria, nem um pouco, de ensinar...

Mudando de tom, ele disse:

- Porém, garota, fique avisada de que não, eu não gosto de ser contrariado. Se alguma vez abusar, tenha certeza de que eu não sou de perdoar. Não falte às minhas aulas, ou aos meus compromissos, e posso te ensinar durante anos e anos e anos, o suficiente para competir em torneios e desafiar vários ratos que se acham homens aqui na escola. Se, por algum acaso, a informação de que lhe ensino esgrima vazar, eu nunca mais a deixarei encostar numa espada. Quero total lealdade, dedicação e firmeza, pois foi assim que meu mestre ensinou-me e é assim que ensinarei a você. Estamos entendidos?

Mira entendeu a solenidade do que ele dizia: estava de pé, em sua frente. Ela se levantou e ficou olhando fixo nos seus olhos, quando disse que sim, que se comprometeria com isso até quando ele julgasse que estava pronta para seguir com seus próprios pés.

- Ótimo.- Ele respondeu e,com um sorriso excitado por toda a situação, ele complementou - Está dispensada.

Quando Mira fechou a porta atrás de si, Matthew percebeu que começava ali, o verdadeiro jogo e que passaria ainda muitas noites em claros, com 'problemas' que nem banhos frios e somente um corpo quente, resolveriam....

terça-feira, 14 de abril de 2009

Capítulo 04


Lavínia acabou de colocar os feitiços acústicos na sala do segundo andar com um suspiro. Sentou-se em uma cadeira apoiando a cabeça nas mãos finas. Enquanto esperava Mira, a sonserina pôs-se a pensar na carta que recebera de seu pai hoje pela manhã. Ele tinha recebido no castelo um pretendente para a jovem que segundo suas próprias palavras era: " Bem apessoado, com um dote muitíssimo bom, além de ser um respeitado mágico na sociedade". E Lavínia sabia melhor que ninguém que aquelas palavras realmente significavam: pomposo, esnobe e um rapaz fútil que vivia de aparências.

Quando chegava a essa conclusão lembrava-se mentalmente que tinha sorte de ter podido rejeitar tantos pretendentes até agora. Ela vivia em uma época em que a opinião feminina não era levada em consideração para assuntos de real importância, e casamento não tinha geralmente nada a ver com amor.

O som da porta rangendo a acordou, viu Mira entrar pela porta e ao notar pelo muxoxo que esta fez, ainda não tinham conseguido descobrir como fechar o corte dela, seu braço ainda tinha a tala de proteção.

- Nada? - Lavínia queria confirmar.

- Nada... Não posso fazer nenhum esforço. A profª Hufflepuff entrou em contato com um criador desse bichos que deve mandar algo, espero. - Mira suspirou

- Se quiseres eu posso tentar fazer uma poção... - ela sorriu gentilmente - Não garanto nada, mas pior do que está, bom, eu realmente acho que não fica - ela falou fazendo uma careta - No mais, eu posso tentar fazer algo para a dor.

- Nem dói tanto... O chato é ficar quietinha mesmo...

A sonserina sabia o que isso queria dizer, a ruiva não poderia treinar esgrima com ela. E a reunião que iria começar em alguns minutos, seria só teorica para a amiga. Lavinia estava contando em usar Mira em alguns momentos, mas acabou se vendo na posição de professora.

- Quantas garotas chamaste? - A loira perguntou

- Não muitas - Tranquilizou-a a ruiva - Umas cinco.

- Cinco é muito Mira! - A sonserina falou preocupada - Eu não sei como ensinar esgrima, quer dizer, não sei o que falar, e se eu gaguejar ou pior...?

- Lavínia, se acalme. - A amiga falou. - Vai dar tudo certo, tu só tens que falar pra elas o que me falou... Como empunhar o florete, como mexer os pés, essas coisas.

A conversa das duas foi interrompida pelo bater na porta, entraram por ela Hilde e e Rosette. Pouco depois entraram mais 3 outras garotas, todas da mesma turma de Mira e Lavinia. Quando as cinco sentaram, as duas que as chamaram foram o centro da atenção.

- Bom, quando eu as chamei, falei sobre o que era não é um segredo entre nós. Gostamos de esgrima e não achamos justo não termos aula nem podermos participar do clube de duelo. - Mira falou e viu as outras assentindo. - A Lavinia me ensinou e sei que a Rosette não precisa de aula. Eu acho que devemos praticar e podemos uma ajudar a outra. Eu, por exemplo, preciso aprender a usar o braço esquerdo. - A ruiva brincou, descontraindo o ambiente.

- Acho que a Mira realmente falou tudo - Lavínia sorriu um pouco embarassada - Não sou uma professora realmente, então, desculpem qualquer coisa, já em adiantamento - Ela riu - E se a Lady Elrid pudesse me auxiliar já que sabes mais, eu ficaria muito agradecida. - ela sorriu - No mais, eu acho que é isso, então... Vamos começar?

Lavínia e Rosette treinaram duas garotas cada uma, enquanto Mira ensinava a outra, o básico da esgrima. Como pegar o florete, qual é o objetivo, enfim, deram uma aula sobre o básico.

No final, quase todas elas estavam com os rostos vermelhos e suando, menos Mira que acabou sendo mais cicerone. Ela levou água para todas e ficaram conversando enquanto descansavam.

- Acho que está bom por hoje - Lavínia sorriu recuperando o fôlego - Provavelmente vamos nos reunir novamente semana que vem, se estiver tudo bem para todas.

Elas combinaram o horário da próxima semana e as meninas saíram, ficando apenas Mira e Lavínia na sala.

- Podes deixar que eu acabo aqui Mira - a sonserina sorriu – Terás aula de etiqueta agora e sabes o que irá acontecer se chegar atrasada...

- Estás certa, devo apressar-me. - a lufana despediu-se, acenando por cima do ombro enquanto saía porta a fora.

A ruiva correu pelos corredores até o ponto onde estava sozinha. Sabia que se sua professora a visse daquele modo seria repreendida, principalmente antes de uma aula tão importante como aprender como uma dama deve se portar.

*****


Um leve suspiro demonstrava que aquela aula estava sendo longa demais para Mira. Não que desgostasse das aulas de Etiqueta e Postura, achava que certas coisas eram realmente necessárias aprender, mas queria que houvesse mais espaço para discussões. A professora Hostilia Gryffindor estava ensinando os modos em que os cabelos deveriam ficar presos e em qual ocasião deveria-se usar cada um.

- Por exemplo, ao cozinhar deveis prender seus cabelos e ao terminar deveis procurar um espelho e se recompor para seu marido. - A professora falava e analisava os rostos de suas alunas. - Agora que terminamos a parte teórica vamos para a prática. Aos seus lugares.

A turma começou um burburinho que foi logo silenciado pelo olhar atravessado da professora. As alunas se levantaram e seguiram até uma parte onde vários espelhos flutuavam e várias escovas e pentes estavam em uma mesa no centro.

- Vamos começar com um coque básico e que serve para quase todas as ocasiões. Precisarei de uma modelo, alguém se habilita?

A troca de olhares e a falta de palavras entregavam que nenhuma garota queria ser o foco da atenção da severa professora.

- Lady Barlow, poderia vir aqui? O seu cabelo é um bom exemplo de longas e rebeldes madeixas.

A lufana andou até a professora tentando controlar sua respiração e seus olhos, sabia que Hostilia perceberia algo. Mira sentiu que até o final da aula iria usar toda a sua paciência e que ouviria muitos comentários sobre sua aparência. Sentou na cadeira e sentiu seu rabo-de-cavalo sendo desfeito.

- Uma coisa muito importante: prender o cabelo em rabo-de-cavalo é algo que deve ser evitado ao máximo. É sinal de jovens rebeldes.

Mira virou os olhos, o que fez as outras alunas rirem um pouco. Em resposta Gryffindor puxou as madeixas ruivas de sua aluna com força, passando a escova para desembaraçar.

- Reparem que todos os fios devem ser puxados para trás e não devem deixar divisões nenhuma na cabeça, nenhum caminho. Mesmo que tenham que puxar com força. Façam!

O movimento foi imediato, ninguém queria que a professora ajeitasse ou consertasse seu penteado. Na cadeira central Mira lutava contra suas mãos, queria afrouxar o pano que prendia seu cabelo apertadamente. Enquanto isso Hostilia passeava pela sala e via o resultdo de suas alunas.

- Todas? Amy, estas com alguns fios soltos. Mesmo o teu cabelo sendo liso, use água com o feitiço ponderosus concretum ius com mais força de vontade. Deixe-me fazer para mostrar-te.

A grifinória se viu sem opção e teve que deixar sua professora arrumar seu cabelo. Todas as outras alunas prenderam o ar ao ver o rosto de sofrimento da pobre garota Hostilia retornou até Mira. Ainda faltava mostrar como terminar o penteado, para a infelicidade da lufana.

- Vós deveis torcer o cabelo para dar uma aparência mais alinhada. Torcer também evita fios soltos.

O rosto da ruiva se contorceu. Não conseguiu segurar um gemido de dor quando seu cabelo foi preso pela professora.

- Todas vós deveis aceitar que a postura e o comportamento corretos vêm com um pouco de sacrifício. Alguns tipos de cabelos podem ficar com aparências feias depois de soltos, mas, como disse antes, são sacrifícios necessários.

Enquanto Mira lutava com a dor que sentia na cabeça, as outras alunas lutavam com seus cabelos para alcançar o nível de exigência de sua rígida professora.

- Muito importante é não deixar nem um fio solto. Quando fizerdes tem que estar impecável. O cabelo assim pode ser uma salvação, pois vós ficais prontas para todo e qualquer tipo de situação e evento.

Mira se levantava da cadeira quando sentiu as mãos firmes de sua professora a colocar de volta, sentada. Sentiu um frio na barriga, pensando o que mais poderia acontecer. Só faltava falar que tinha que pintar o cabelo de preto, pois era mais comportado.

- Para fecharmos a aula, irei mostrar rapidamente a pintura facial ideal. Nós que somos brancas, devemos colocar um pouco de cor em nossas faces, mas sem exageros. Esse pó vermelho que está no centro da sala deve ser passado com a ponta dos dedos e levemente. Observeis como eu faço na Lady Barlow.

Hostilia deu leves batidas na maçã do rosto de sua modelo, que contorceu a face.

- Controla-te Lady Como pretende ser um bom exemplo de mulher assim? Mantenha o rosto impassível!

- Perdão professora. - Mira tentou relaxar o rosto se imaginando fora daquelas quatro paredes, que naquele momento estavam parecendo uma sala de tortura.

- Isso mesmo, rosto totalmente relaxado... Pronto! Vejais como ficou bela e singela, nossa querida Mira Barlow. Ninguém falaria que ela pensa que pode subir em um cavalo como um homem e desafia-lo. - Hostilia virou para as outras alunas e continuou. - Que essa aula seja um bom exemplo a todas em como se portar. Assim vós ireis desistir destas idéias tolas e vos colocareis no lugar de mulheres, sendo admirada e cortejada pelos homens.

Algumas alunas riram baixinho ao ouvir aquilo, outras viraram os olhos e tinham as que concordavam com o rosto. Mesmo entre as alunas, o papel dado às mulheres era algo que dividia as opiniões e pensamentos.

Ao término da aula Mira saiu direto para a biblioteca, precisava pegar um livro para a próxima aula. Não pode desfazer o cabelo e a maquiagem, fora uma ordem de sua professora, ficar assim o dia todo. Queria que suas alunas sentissem o resultado e exatamente isso aconteceu com a lufana assim passou pelo corredor.

Os rapazes, ao passarem por Mira, lançavam olhares cobiçosos e respeitosos ao mesmo tempo, sem ousar, entretanto, fazer qualquer tipo de comentário, embora ela tivesse certeza de que ouvira Thomas Staples sussurrando que acabara de ver um milagre “Uma bárbara se transformando numa princesa.”.

Ninguém, porém, tinha coragem de fazer uma gracinha com aquela ‘dama’ que reagia tão mal a esse tipo de coisa. Ninguém com uma pitada de bom senso, o que, é claro, não se aplicava ao jovem Jake de Malvoisin, o Vesgo.

- Lady Barlow! - Ele exclamou ao vê-la no corredor, ainda longe. - Como estás elegante, hein?!

Mira fechou a cara para ele, mas a educação a fez parar.

- Agora não, senhor Vesgo. - Ela respondeu, com um tom negro na voz.

- Mas é a pura verdade que meus olhos tortos dizem! Parece-me que nunca a vi tão arrumada, tão bonita... Deixe-me adivinhar, a Lady Gryffindor é quem deu um jeito em você?

- .... A professora Gryffindor é quem dá as aulas de etiqueta e postura, lembra-te?-– Mira respondeu, amarga.

- Nem parece que a Lady tem uma veia masculina em seu corpo. – Vesgo respondeu. – Embora, eu deva confessar que goste mais do seu eu-natural-rebelde, não posso negar que estás deslumbrante com esse coque. Aceitarias, portanto, dar uma volta comigo?

- Temos aulas hoje, senhor Jake. – Ela não queria prolongar o assunto, pois temia que virasse um tapa na cara dele e isso seria motivo para muitas sessões detenta.

- Como quiser, Lady, mas se mudar de idéia, procure-me! – e com um beijo na ponta dos dedos dela, ele foi-se, para a felicidade geral da nação.

A ruiva estava pasma com o que um simples mudar de cabelo e um pó vermelho no rosto faziam. Como se algo mudado externamente fosse realmente alterar o que ela era ou o que pensava.

Iria receber algum trabalho extra com certeza, mas não iria conseguir agüentar os comentários o dia todo. Sem se importar com o que sua professora poderia falar ou não, Mira levou as mãos ao cabelo e os soltou. Se fosse para ser repreendida, que fosse pro ser ela mesma.


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Boooom, estou mais do que atrasada... Realmente já percebi que sábado não é um dia fácil para eu postar. Então mudarei o dia para todas segundas-feiras.

Mil desculpas pelo atraso!!

Beijocas

Jujub

sábado, 4 de abril de 2009

Capítulo 03 - Land of Ice and Snow


The land of ice and snow
Where the midnight sun blows
Hundred thousand lakes glow
In the land of ice and snow

Nothern lights guide our way
Come whatever may
Forest god protects our day
In the land of ice and snow

Where Koskenkorva flows
Where the freezing wind blows
Summer nights are white and warm
In the land of ice and snow

Some night say that we are cold
Don’t believe all that’s been told
Our hearts are made of gold
In the land of ice and snow

We didn’t bow under oppression
We fought and we died
Redeemed in blood
The land of ice and snow

Here I was born and here I’ve lived
And one day here I will die
Under nothern starry sky
In the land of ice and snow...



Matthew não queria acordar novamente no meio da noite, por isso bebeu mais uma dose do uísque preparado que ele deixava na cabeceira. Não gostava dessas interrupções, especialmente em sonhos tão bons quanto o que ele atualmente estivera.

Sonhara com a primeira vez que vira Mira Barlow como mulher e não como aluna. Sonhara com o perfume que ela tinha e que ele conseguia reproduzir em sua mente mesmo quando ela estava longe. Tinha em sua mente gravada a cena dela por sobre o corpo de seu tio naquela noite. O cabelo caindo por sobre o rosto, a tentação que ele sentira de toma-la ali mesmo.

As decisões que ele tomara mudariam profundamente o rumo de sua vida, e ele tinha consciência disso. Não escolhera uma mulher qualquer, até porque, não era um homem qualquer.

Por que deveria tomar como esposa outra, apenas por que a que queria era sua aluna? E quem ligava para isso? Tantas outras, mais novas já estavam noivas de homens sem nenhuma vivência ou barba. Por que ele que fora um dos maiores esgrimistas da europa não poderia ter a quem queria?

Não seria contra a vontade dela, não mesmo. Conhecia até onde uma mulher poderia estar disposta a ir se realmente achasse que valia a pena, e talvez fora isso que encantara em Mira Barlow.

Ela, a partir daquele momento, era parte de seus ideais, por isso, não havia nenhuma razão para não lutar por ela com unhas e dentes.

Matthew de Aldearan era aquele que merecia, aquele que já fora um dos maiores homens do mundo e caíra do topo por sabe-se lá arrogância, inveja dos outros ou abuso de suas condições físicas.

Tinha suas posses, tinha seus subordinados e era mestre numa das primeiras escolas de magia da sociedade. Quem poderia contestar-lhe o prestígio?

Colocara mais campeões do Torneio de Deus que qualquer um e tinha plena certeza de que muitos de seus iriam ser colocados na tropa do Anjo Michael quando este descesse à Terra para o Apocalipse.

Era um dos poucos que mantinham-se como uma rocha dentre a corrupção de uma nobreza falida por Deus. Queria ter ido para as Cruzadas como todo homem honrado deveria ter feito, mas não pôde. Deus algum dia o perdoaria?

Não sabia e não se preocupava, pois fazia seu melhor para treinar tantos quantos pudessem servi-lo no seu ofício de guerra. E teria orgulho em conquistar aquela jovem, teria orgulho de viver com ela até o fim de seus dias e trazê-la para sua proteção.

Seus ideais – com eles nascera, alguns aprendera, com todos, morreria.