segunda-feira, 20 de abril de 2009

Capítulo 05


Mira fechava a porta da sala onde acabara de ter seu segundo encontro do clube de esgrima feminino. Como sempre, Lavinia falou que arrumaria tudo sozinha e que a amiga poderia ir para sua casa. A lufana sabia que era o modo da outra ficar um pouco sozinha, refletindo, ela sempre fez isso. Respeitando o pedido da sonserina, a ruiva somente saiu e andou devagar pelos corredores. Ela estava feliz, todas as garotas voltaram e estavam mais participativas.

Com um sorriso no rosto Mira lembrou que estava começando a manejar a esgrima com a mão esquerda, não caiu nenhuma vez. Não queria ficar parada o tempo todo durante as aulas e achou que isso poderia ser algo bom para o futuro, quem sabe aprender a usar as duas mãos simultaneamente. Claro que algumas vezes teve que usar a mão direita, mas não tinha sido nada que forçasse muito e seu curativo estava intacto.

Longe da dali, Matthew de Aldearan sentiu um incômodo enquanto trabalhava na correção dos vários pergaminhos sobre a "Primeira Revolução Globiliana e as várias teorias de separação do que seria a raça dos goblins da mutação élfica doméstica". Não era uma dor comum, era um ponto em específico do seu corpo. O átrio direito ardia, como se estivesse a ponto de rasgar.

- Aquela delinqüente está prestes a abrir o ferimento de novo.... - ele resmungou para si mesmo.

Era uma conseqüência do feitiço de vigilância que colocara na infame Lady Barlow: seu coração doeria a níveis absurdos quando a vigiada estivesse tentando quebrar as regras pré-estabelecidas. Era um preço a se pagar por tirar a liberdade de ir e vir da pessoa: o feitiço consumiria a pessoa por dentro enquanto a cura da pessoa não fosse achada. Anos atrás, tal feitiço, chamado de 'Maldição de Arestes', era usado por reis desesperados com doenças incuráveis com seus médicos. Enquanto a doença do rei não passasse, o feitiço consumiria o coração de seus doutores, entretanto, o rei seria monitorado de perto por este. Muitos gênios morreram assim em eras perdidas.

Matthew achava que era um preço justo a pagar pela saúde de sua 'protegida.' E por isso, não deveria ignorar aquela explosão em seu coração: parou o que estava fazendo e foi na direção que instintivamente sabia.

Não demorou a encontrar a jovem responsável pela sua pequena dor andando com um sorriso no rosto. Estava claro que fizera algo irresponsável como da outra vez, quando teimou em participar do torneio de montaria, mas ele não pode deixar de pensar em como aquele sorriso deixava aquele rosto ainda mais encantador.

A ruiva parou ao ver seu professor de História andando em sua direção e seu rosto aparentava algo que naquela distância não conseguia distinguir. Não conseguindo conter a pontada de preocupação que sentia Mira andou até ele que parecia estar sentindo dor.

- Lady Barlow, que prazer em revê-la... - Matthew se aproximou de Mira com um meio-sorriso no rosto, apertando as mãos de dor. - Está saindo de alguma aula, menina?

- Boa tarde professor. Estava com uma amiga agora a pouco. Por quê? Precisa de algo? - A lufana imaginou se estava com o rosto vermelho ou algo que entregasse o que estivera fazendo realmente.

- Vim perguntar-te como anda seu braço... - Ele respondeu, com os olhos faiscando.

Mira instintivamente soube que ele a estava analisando e virou os olhos, certamente ele não estava sentindo nada se estava ali para inquisi-la. Estava querendo pedir para ele ser mais direto e não contornar na pergunta, mas sabia que poderia ser repreendida pelo modo de falar. Isso a fazia ter mais certeza que os pequenos encontros clandestinos poderiam se tornar algo útil para futuras alunas.

- Está bem, como podes ver. - Mira estendeu o braço, mostrando a atadura feita por ele

- Lady então, está me chamando de cego. - Matthew respondeu, com um sorriso sacana. - Cego, Lady, só sua amiga Laila. Pelo que EU vejo, a Lady anda forçando demais esse braço...

- Aimeumerlin... - A ruiva calou antes que continuasse. Iria ficar quieta, deixando ele falar o que quisesse e insinuando o que quisesse.

- Pergunto-me eu, com o quê. - Ele disse com sua língua de serpente. - Afinal, EU mesmo me encarreguei de pedir aos seus professores que não sobrecarregassem na carga de atividades físicas...

A lufana levantou seu braço direito, ele estava perfeito. Não sentia latejar, doer e nem via uma gota de sangue no pano. Não entendia como ele poderia saber algo. Mesmo com o feitiço que ele colocara, ela não sentia nada.

- O que vês de errado? - Ela perguntou

- O que eu vejo de errado? - O professor perguntou, sarcástico. - Tudo. Eu vejo que você andou usando seu braço para movimentos repetidos, porque, quando anda, ele não fica na inclinação perfeita normal, ele se estende ao máximo, exausto. Eu vejo que o ferimento parece se fechar de fora pra dentro e provavelmente, você terá uma hemorragia interna se continuar lutando com ele...

A menina arrepiou-se toda quando ele usou a palavra lutar. Ele sabia do Clube?! Mas como? Ninguém poderia ter vazado com a informação, ninguém. Ainda mais tão cedo, não fazia nem duas semanas que começaram.

Matthew sorriu ao ver que sua semente produzia resultados: ela se inquietara com sua última fala, que não fora, de longe verdadeira. Não poderia contar-lhe que sentia uma dor no coração toda vez que ela estava prestes a romper seu corte, mas poderia, sim, manipulá-la para que ela contasse o que, afinal, estava fazendo para destruir seus curativos tão perfeitos.

Não que honestamente ele se importasse, Tanto mais vezes tivesse que refazer o curativo, mais vezes ficaria sozinho com aquela que ele pretendia chamar de sua, um dia.

- Então, Lady Barlow, que me diz?

- O que queres de mim para que não fales nada? - Ela o olhou esperando uma resposta tão direta quanto sua pergunta. - Se vieste falar direto comigo e não com nenhum diretor, é porque tens algo em mente. Diga-me.

Matthew ia responder quando ouviu um burburinho de alunos não muito atrás de onde eles estavam. Ele pode perceber que ela estava quase entregando o que andara fazendo, mas se qualquer aluno passasse Mira poderia escapar. Pegou a aluna pelo braço e a levou para a primeira sala vazia que encontrou, fechando a porta no caminho.

- Pronto, Lady Barlow, agora que estamos só nós dois, pode me contar que anda fazendo que não quer que ninguém saiba.

Ela o olhou incrédula, tentando entender como sempre acabava ficando a sua mercê. A ruiva repetiu o que tinha dito no corredor, queria saber o que ele pretendia com aquilo tudo.

- A Lady sabe que tenho fama de homem inteligente, e eu sei que o és também. O que eu ganharia entregando uma das minhas melhores alunas na mão de mestre Salazar Slytherin? - ele respondeu - Prefiro eu dar as cartas ao jogo, Lady. A menos que você prefira que mestre Salazar o faça. Espero que me conte o que virei a saber, cedo ou tarde.

Mira sabia que Salazar Slytherin leria a mente dela sem pensar duas vezes. Se vendo sem opção a lufana jogou seu corpo em cadeira, pensando em como somente ela entraria na encrenca. Seu professor não precisava saber de suas amigas. Procurando as palavras certas, ela contou o que estivera fazendo.

- Eu estava treinando esgrima e, antes que reclame, eu estava tentando aprender com o braço esquerdo, para não forçar o direito. Acho que troquei de braço somente duas vezes, para tentar algo mais complicado. - Mira olhou para seu professor tentando descobrir o que ele faria, além do sermão. - Pronto, podes falar. Estou esperando sua repreensão. - A ruiva o encarou, esperando a resposta.

Matthew parou por um instante ao vê-la enfrentando-o com força para tomar o esporro. Via a dedicação no olhar dela, e via que ela escondia ainda pessoas atrás de sua saia. Com o pouco de legilimência que sabia, era o que ele podia descobrir.

Um sorriso afinou-se em seus lábios quando ele preparou-se para responder.

- Repreensão? - Ele disse, com modos suaves e perigosos. - Difícil repreender alguém que sofre do mesmo mal que eu: amar a espada com todas as suas forças... Mesmo que seja uma mulher, mesmo que esteja com o braço a ponto de atrofiar e nunca mais ser usado.

Mira parou por um instante. Não conseguia acreditar nas palavras do professor, Não teria nenhuma bordoada para levar? Ele estava realmente a entendedo?

- É claro que você nunca chegará aos pés dos grandes esgrimistas homens. O jovem Santiago, por exemplo, luta como o anjo Michael fará ao descer para o Apocalipse. Você, apesar do rosto angelical, poderá ser muito boa, o suficiente para defender-se da média comum, se treinar. - Matthew ponderou, mais para si mesmo do que para ela. - E obviamente, não será nada se estiver sem um braço, como pode ver no que eu me tornei... - Ele respondeu, com raiva. - E portanto, deve parar de desobedecer aos meus cuidados!

O fato de Mira não falar nenhuma palavra ou esboçar nada em seu rosto o fez pensar se ela estava ainda pensando sobre aceitar ou não.

- A menos que não queiras ser treinada como se deve, pois, afinal, quem confiaria num treino dado por uma mulher, quando se pode treinar com Matthew de Aldearan, aquele que já foi o maior esgrimista de toda Europa? - Ele disse, enquanto insinuava o corpo para frente.

- O senhor me treinaria? - Mira perguntou baixo, boquiaberta com o fato de sua bronca ter sido muito mais leve do que pensara, na verdade praticamente nenhuma. Sua mente ainda estava trabalhando nas milhares de possibilidades que viriam do treinamento com o próprio professor de esgrima de Hogwarts

- É claro que não sairá de graça para a Lady, mas questões de pagamento podemos acertar em outra hora. - Matthew respondeu. - E assim, eu posso controlar como e quanto a Lady usa o braço direito, além de ministrar-lhe nas técnicas da luta com o braço esquerdo que, como vê, fui obrigado a ser mestre...

- Pagamento? -A ruiva engasgou, não tinha como pagar alguém do calibre de Matthew de Aldearan.

- Coisa miúda, preciso de gente para me ajudar no departamento pessoal e mulheres que saibam arrumar um quarto cheio de raridades. Não confio no pessoal do castelo para fazer isso, e, ultimamente, não tenho paciência ou estimulo para arrumar minhas coisas. - Ele respondeu, emendando com um - Não acredito que ensinarei uma mulher nas minhas artes..

Mira não conseguia acreditar que ele se dispusera a ensinar esgrima! Mesmo que, parecendo a contra-gosto, era uma oportunidade que muitos homens matariam por ter. Aquela situação toda estava sendo fora da realidade para ela. Para Matthew, entretanto era largamente vantajoso. Teria uma mucama para arrumar seu quarto, passaria horas e horas com sua protegida, ensinando-a, não só esgrima, mas, esperava, como se preparar para tornar-se mulher de Matthew de Aldearan: o porte, ela já tinha, o resto ele, não se importaria, nem um pouco, de ensinar...

Mudando de tom, ele disse:

- Porém, garota, fique avisada de que não, eu não gosto de ser contrariado. Se alguma vez abusar, tenha certeza de que eu não sou de perdoar. Não falte às minhas aulas, ou aos meus compromissos, e posso te ensinar durante anos e anos e anos, o suficiente para competir em torneios e desafiar vários ratos que se acham homens aqui na escola. Se, por algum acaso, a informação de que lhe ensino esgrima vazar, eu nunca mais a deixarei encostar numa espada. Quero total lealdade, dedicação e firmeza, pois foi assim que meu mestre ensinou-me e é assim que ensinarei a você. Estamos entendidos?

Mira entendeu a solenidade do que ele dizia: estava de pé, em sua frente. Ela se levantou e ficou olhando fixo nos seus olhos, quando disse que sim, que se comprometeria com isso até quando ele julgasse que estava pronta para seguir com seus próprios pés.

- Ótimo.- Ele respondeu e,com um sorriso excitado por toda a situação, ele complementou - Está dispensada.

Quando Mira fechou a porta atrás de si, Matthew percebeu que começava ali, o verdadeiro jogo e que passaria ainda muitas noites em claros, com 'problemas' que nem banhos frios e somente um corpo quente, resolveriam....

3 comentários:

Pensieve disse...

Lendo um pouco atrasada, mas ainda assim lendo!

Agora que a parte boa da história vai começar (;
E quanto à lealdade, Matthew que jamais duvide de uma lufana... Esse aí também tem muito o que aprender ^^

Beijão,
Liv

Juju disse...

Concordo Liv, JAMAIS duvide de uma lufana!!

Sam Blair

Unknown disse...

Isso ta ficando cada vez melhor , mas consigo esperar para o próximo capítulo, parabéns pelo trabalho maravilhoso
Sucesso !