segunda-feira, 25 de maio de 2009

Capítulo 09

Uma reflexão de Matthew.


Mulheres. Quanto mais penso eu que as conheço, menos as entendo. Mira Barlow. Mira Barlow. Minha Mira Barlow. Lady Mira de Aldearan, futuramente, sem dúvida alguma.

Há alguns meses é só no que consigo pensar. Essa ruiva tomou meus sonhos de assalto, me aguçou todos os sentidos: olfato (ah, aquele cheiro que me faz tomar tantos banhos gelados...), visão (não que esta precisasse de qualquer apuramento para perceber as vultosas formas da minha mulher), paladar e tato ainda estão por vir, mas audição teve que ser treinada para ouvir as respostas ferinas que eu não imaginava que ela pudesse me dar.

Mais importante que isso essa menina me aguçou a mente. É sabido que a maior parte das mulheres não passa de coisinhas efêmeras e que servem apenas para agradar nossos instintos corporais mais primitivos, mas existem algumas e apenas algumas que conseguem se igualar a bons homens em termos de conversa e sagacidade: Rowena Ravenclaw, por exemplo, sempre foi uma dessas. Helga Hufflepuff é uma boa senhora, mas... uma senhora apenas.

E Mira Barlow. Mira de Aldearan. Ela precisa ser minha, não há ninguém no mundo mais digno do que eu para ela e ninguém que eu conheça mais digna de mim do que ela. Ela nasceu para acompanhar-me, para apoiar-me e eu nasci para elevá-la aonde nenhum outro homem a levaria.

Entre os homens de armas do Oriente, existe um provérbio que eu considero muito sensato. “Toda espada precisa de uma bainha, do contrário, em algum tempo ela se desgastará e se perderá.” E é verdade. Com o tempo exposto às intempéries do mundo, a espada perde seu corte, sua vitalidade e acaba por enferrujar.

Por mais que se use magia para limpa-la, para poli-la, nada substitui uma bainha bem preparada para guarda-la, protege-la, ampara-la.

E eu sou uma excelente espada que precisa da melhor bainha. Já perdi durante anos muito de meu corte, mas nunca perderei minha força e vitalidade para quem souber me usar – e eu sei que sou alguém com vida e esperteza para chegar onde cheguei.

Ela é minha bainha, eu tenho certeza e eu a carregarei comigo até o inferno se for preciso.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Capítulo 08


Enquanto todos os alunos da sala procuravam no livro de História a resposta para a pergunta escrita no quadro à frente da classe, uma aluna olhava para o vazio com os olhos quase fechando. Mira estava com tanto sono que não conseguia nem disfarçar que tentava fazer o trabalho dado em sala de aula.

Algumas vezes ela olhava para o pergaminho onde estava o título e somente três linhas escritas. Era só se concentrar para escrever que os olhos começavam a fechar e a cabeça caía de sono. E, para o azar da ruiva, essa ainda era a primeira matéria do dia.

- Lady Barlow observo que o teu trabalho está em branco faltando somente cinco minutos para acabar a aula. - O professor de História pegou o pergaminho enquanto falava com a lufana. - Ao final da aula tu ficarás para conversarmos.

Matthew de Aldearan virou de costas para a ruiva e retornou para a sua mesa, de onde observara sua pupila a aula toda. O que mais intrigava o professor não era o dever não feito, mas o que Mira fizera que a deixou naquele estado.

O dever que ele passara para ela fazer na noite anterior ao final da aula de esgrima não fora tão longo e ela deixara os pergaminhos em sua mesa escritos e com as respostas corretas.

“- Nessa terceira aula tu irás estudar mais teoria que irás praticar. - O professor falou observando se Mira responderia e sorriu internamente ao vê-la se controlar. - Se, e somente se, eu achar que está bom, praticaremos depois.

Matthew sorriu ao falar aquilo no final. Naquele final de semana a aula de esgrima deles fora marcada para mais tarde e se ele a atiçasse bastante, ela poderia ficar com ele mais tempo.

O que o professor não sabia era que Mira queria pegá-lo de surpresa. Ela não contara que a diretora Helga Huffpuff finalmente conseguira um ungüento feito para fechar o ferimento no braço da ruiva, que há duas semanas andava com a atadura feita por Matthew. Agora ela poderia mostrar o que aprendera nos últimos anos com seu braço bom.

Como mandado pelo professor, a ruiva sentou na cadeira e esperou o professor trazer os livros.

- Estas esperando que eu faça o teu trabalho? A lista está a tua frente, ache os livros. - Ele falou sentando-se em uma cadeira mais a frente, esticando a perna e as cruzando. - O teu papel é de aluno e não de mulher.

Com um olhar atravessado Mira se levantou com a lista na mão. A estante de livros dele era enorme e não havia nenhuma ordem, nada que a ajudasse a achar o que procurava. Alguns livros estavam virados, não mostrando o nome e outros estavam apoiados um em cima do outro. Achar cinco livros naquela bagunça demorou muito mais do que o esperado, para o deleite de Matthew que a observava.

- Professor? Achei o último livro, mas vou precisar de ajuda. - Ela esticava o braço tentando alcançar a prateleira superior.

O esgrimista deu um meio sorriso e se levantou. Ela era um ‘aluno’, mas subir em uma cadeira na frente de um homem era pedir muito. Não que ele não quisesse assistir a cena, mas Matthew sabia que seria forçar muito a jovem.

Mira mostrou o livro que precisava tentando mais uma vez alcançá-lo. Matthew parou ao lado da ruiva e sem tirar os olhos dela, esticou o braço e pegou o livro. Ele percebeu que os olhos negros dela, vistos tão de perto, pareciam duas pérolas negras, preciosas e raras. Ela sentiu o rosto esquentar com a intensidade com que era olhada. A ruiva tentou desviar, mas a presença dele a fez esperar sem saber ao certo o quê.

Matthew sentiu sua boca secar e uma de suas mãos começar a tomar vida própria. Achou mais sensato se afastar, ainda não era a hora certa para que ele soubesse o sabor daqueles lábios e daquela pele.

- Já que demoraste tanto para achar esses livros, faremos o que tanto quer. Mostre-me o que aprendeu utilizando seu braço direito. - Ele falou de costas para ela, controlando o calor que subia em suas veias. Teria que extravasar aquela energia e o faria em um duelo com sua aluna.

- Já sabes então? - Mira falou ao colocar os livros na mesa, levemente ruborizada com o que acabara de ocorrer.

- Soube no mesmo momento em que ficara boa. - Ele falou pegando as duas espadas de madeira que utilizavam para treinar.

Com um leve sorriso no rosto Mira se aproximou de seu professor. Não sabia dizer por que, mas precisava que ele a respeitasse igualmente como fazia com seus alunos. Para ela era importante conquistar a opinião de Matthew sobre como tratar uma mulher. Ao segurar a espada de madeira, a ruiva tinha um olhar decidido sobre como seria aquele duelo.

Para o espanto do professor, ele demorara mais do que o esperado para desarmar Mira. Não só os movimentos dela foram diferentes, tinha algo mais...

- Precisamos ver melhor esse seu modo aberto ao defender pela esquerda e sua postura ainda deixa muito a desejar. - Matthew falou sério enquanto andava em direção a saída. - Fora isso, foste bem... - Ele virou para Mira e completou. -... para uma mulher. Saia quando terminar o questionário.

Ao terminar de falar, Matthew de Aldearan saiu para seus aposentos, sedento por um banho gelado e a companhia de sua adega. Na presença da jovem ele se controlara, mas não sabia por quanto tempo conseguiria segurar seus anseios se continuasse sentindo aquele perfume de tão perto.”

Ao término da aula de História todos os alunos entregaram suas dissertações e saíram da sala, restando somente uma aluna ruiva sentada em sua carteira, esperando seu professor.

Matthew estranhou, pois nem sendo repreendida, mesmo que levemente, em frente à classe Mira demonstrou alguma reação. Ela estava naquele momento sentada, com os olhos semi-cerrados, sem falar nada. Ele se levantou e parou ao lado da lufana.

- Pegue seu material e acompanhe-me! - O professor falou sério.

Ele observou que os movimentos dela foram lentos e automáticos. Estava claro que a garota não dormira a noite toda. O que o preocupava era que ela retornara sem companhia para sua sala comunal após a aula de esgrima. Matthew não achava possível que algo pudesse acontecer dentro dos muros de Hogwarts, mas uma ponta de preocupação ficou martelando em sua cabeça.

Se ele queria respostas, as teria. Mas o esgrimista sabia que deveria perguntá-las em sua sala, onde não seria interrompido indevidamente ou alguém pudesse ouvir sobre as aulas que dava para uma mulher.

O professor abriu a porta de seu gabinete de esgrima, dando passagem para sua aluna. Ele abriu a boca para falar, mas ao se virar viu que Mira já terminava de subir a escada de corda para a sala de aula. Matthew olhou intrigado a cena, pois ela nem se importara de ir na frente dele.

Com dois passos ele subiu pela corda e chegou à sala, já virando para perguntar o que estava acontecendo com Mira.

Antes que pudesse falar qualquer coisa ele viu como estava a sua sala e entendeu o que ocorrera. Matthew olhava tudo sem achar palavras para se expressar, toda a sala estava limpa e arrumada. Todos os livros sem poeiras e em ordem alfabética, as almofadas e cadeiras nos devidos lugares. Ele se aproximou das espadas de uso dos alunos e viu que estavam arrumadas e limpas, o que o levou a se perguntar como ela aprendera a fazer aquilo.

- Não toquei nas suas espadas pois preciso que me ensine a polir... Pode-se dizer que já comecei a pagar pelas minhas aulas, certo? Agora quem me deves aula é o senhor... - Ela falou com um meio sorriso. – Agora tenho um tempo livre, posso me retirar?

- Sim, deves ir e descansar.

Matthew ficara impressionado com o que acontecera. Ele achou que teria que cobrar o que fora a moeda de barganha pelas aulas ou que ela pegaria somente uma vassoura e falaria que estava pronto.

- Essas mulheres nos surpreendem... - Coçando a cabeça ele saiu da sala com um leve sorriso no rosto.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Capítulo 07


Matthew observou cuidadosamente os quinze garotos que se encontravam à sua frente, dispostos em três fileiras de cinco alunos. Alguns ainda tinham as feições de criança, outros já começavam a apresentar barba.

Tinham, em média, de quinze a dezessete anos. Eram os melhores alunos, que ele tão juntara numa única classe. Alguns já o conheciam há bastante tempo, desde o primeiro ano que entraram em Hogwarts: caso de Charles Trocken, que possuía um talento fora do comum. Outros ainda não tinham tido nem tempo de se acostumar às aulas do mestre de esgrima. Foram recomendados por Norman Huckle, que era o professor oficial de duelos. Segundo ele, esses eram o que tinham o maior potencial, pois demonstravam, além da técnica, calma de espírito e firmeza.

Dar aulas a uma mente brilhante como a de sua pequena Mira Barlow o deixara excitado com treinar os melhores. A idéia de criar um pequeno exército de alunos veio durante uma de suas aulas com ela e o deixara febril desde então.

- Eu tenho certeza de ter pedido à Norman Huckle que me indicasse seus melhores homens. – ele começou falando em voz alta e apesar do tom severo em suas palavras, não conseguia esconder o seu orgulho e animação. – Mas será que aquele idiota se enganou e por isso me mandou um bando de mulherzinhas?

Mira sentiu vontade de tossir em voz alta e indicar sua presença. Ela estava assistindo à aula de longe, seguindo as instruções de Matthew. Enquanto ela acontecia no gramado, a menina ficava encostada numa árvore, com um livro no colo, como se estivesse lendo-o, caso algum professor passasse e a indagasse do que fazia.

“Mulherzinhas também sabem lutar, Matthew!”, sentiu vontade de gritar para ele. Sabia que tinha condições para estar entre os quinze que ele escorraçava, mas por ter nascido moça, estava ali, fingindo que nada estava acontecendo na aula ao lado.

O professor de esgrima parecia empolgado demais para lembrar-se que sua aluna favorita estava por perto observando-o.

- Vocês são mulherzinhas? – ele continuou, já quase gritando, mas ainda assim, extremamente feliz. – Eu fiz uma pergunta. Respondam.

- NÃO! – os alunos gritaram em conjunto em resposta.

- Então, vão ter que me provar isso. – ele falou, satisfeito com a resposta firme dos rapazes que estava na sua frente.

Mira revirou os olhos. Detestava essas técnicas intimidadoras, mesmo que não pudesse negar que funcionavam com a maior parte dos rapazes. Todos ali pareciam animados com o evento que estava acontecendo. Ela bocejou discretamente. Queria poder participar.

- O nosso programa vai durar indefinidamente. Funcionará todas as vezes que eu convocar, quando eu tiver tempo e paciência. Vocês terão que arrumar seus horários sozinhos. Não quero ninguém faltando às minhas aulas. Se eu achar que algum de vocês não é digno de fazer parte desse grupo, eu o expulsarei sem pensar duas vezes.

Os moços olhavam-no seriamente, pensando em como iriam programar-se para atender aos caprichos do mestre. Ninguém cogitava a idéia de sair daquele grupo: sabiam que era uma oportunidade única.

- Eu quero ver dedicação. Esse não é um treino para moleques. Todos vocês podem começar como crianças, mas não tenham dúvida que ao final, quem sobrar aqui, será um homem. E vocês sabem quais são as características mais importantes num homem?

Eles se mantiveram calados e Matthew esperava que assim o fizessem. Não era uma pergunta séria. Ele continuou:

- Um homem precisa ter centro. Precisa ser rápido, forte e inteligente. Ter discernimento e raciocínio rápido. Saber que o seu inimigo é um ser humano normal. E como vocês vão alcançar isso?

Os rapazes continuaram na posição de sentido, enquanto seu professor avançava neles e os observava cuidadosamente.

- Vocês são frouxos. Não tem condições físicas. Alguns são magros demais e outros estão fora de forma porque apenas comem e dormem. O que falta à vocês?

- Treino? – perguntou um dos alunos, com a voz um pouco tremida.

Matthew olhou o rapaz.

- Sable, é? – o professor perguntou, o encarando. – Você treina todo dia ao amanhecer. Seus músculos são fortes. E ainda assim, você não luta tão bem quanto a maior parte dos outros que aqui estão. Por que?

Matthew foi à frente da turma novamente e apoiou sua bainha no ombro.

- Sim, senhores. Treino é uma parte fundamental do nosso programa. Eu os quero soldados. Quero homens que saibam lutar com a técnica mais perfeita possível. Eu os ensinarei tudo o que aprendi ao longo da minha vida. Quero que saibam cortar, quero que aprendam a usar feitiços com suas espadas e quero que sejam os melhores. Vocês vão passar por horas difíceis, vão desejar desistir ao ver o quão pesado vai ser esse treino para vocês. Mas vocês sairão fortalecidos.

Os alunos entreolharam-se, embevecidos por terem sido escolhidos. Mira observava cautelosamente a situação. Feitiços com espada? Aquilo sim era uma novidade. Já havia visto Matthew usar esse tipo de truque uma vez, mas aprender como fazer aquilo parecia ser realmente interessante.

- Entretanto, isso não será suficiente. Vocês ainda serão derrotados por muitos outros espadachins. Por quê? Eu pergunto. E eu quero uma resposta.

Ninguém se atreveu a sugerir um pensamento.

- Vamos! Quero alguém com colhões o suficiente para me responder à uma SIMPLES PERGUNTA! – ele esbravejou. – Comecem a agir como homens ou eu desmantelarei esse nosso pequeno exército agora mesmo.

Charles Trocken fechou os olhos e abriu a boca instintivamente para falar o que pensava:

- Experiência.

Matthew sorriu um tanto quanto orgulhoso de um de seus melhores estudantes. “Esse promete. Um dia, preciso fazer uma espada decente para ele. Essa que ele usa é muito... pouco prática.”, pensou consigo mesmo e anotou essa tarefa na sua lista mental de “O que eu preciso fazer um dia”.

- Sim, mais uma vez. Experiência. Vocês vão sentir muita falta dela no começo. Quando um de vocês entrar num campo de batalha de verdade, perceberão que tudo que treinamos aqui será posto a prova. Inimigos de verdade. Pessoas que REALMENTE estão querendo que você morra ali. Faz uma diferença impressionante. Por isso, treinem. Treinem o melhor que puderem. Porque essa pode ser a diferença de morrer ou viver.

Alguns dos que estavam ali tremeram em suas bases.

- Agora, existe um terceiro elemento que completa a Tríade do Guerreiro. – ele terminou. Seu coração acelerou ao pensar nela e ele esperava que ela o estivesse ouvindo bem. – E esse elemento é a Motivação.

As caras confusas mostraram-se ali.

- Por que você está arriscando a sua vida numa batalha? É essa a verdadeira chave do sucesso. O que faz de você um derrotado ou não. Alguém que não acredita pelo que está lutando sempre será um adversário mais fraco frente à um que tenha fé na sua motivação.

Mira escutava atentamente o que o professor dizia, tomando nota mentalmente do que era importante e do que não. A maior parte da chamada “Tríade do Guerreiro” ela já conhecia, sem mesmo perguntar. Treino e Experiência vinham com tempo e força de vontade. A parte da motivação era sempre mais complicada.

Matthew parou para respirar, excitado demais com o discurso que estava fazendo. Aquilo era realmente tudo que acreditava, tudo que norteava sua moral e honra. Era a parte mais importante de seu exército. Precisava que eles aprendessem o que estava falando agora ou todo o resto seria inútil.

- Essa motivação provavelmente será a tarefa mais difícil de encontrar. Muitas vezes somos obrigados a lutar por pessoas que não confiamos, por causas que não acreditamos e por motivos pouco nobres. Existem três principais razões para as quais podemos guerrear com nossas vidas verdadeiramente. Algum palpite?

Um dos alunos, chamado Natanael, abriu a boca para dizer:
- Fé.

Matthew sorriu:

- Sim. A Fé é uma dessas razões. Quando digo essa palavra, não quero apenas dizer na fé por alguma divindade que vocês eventualmente cultuem. Uma fé numa causa. Numa pessoa. Lutar por justiça. Enfim, toda essa sorte de motivos. Algo mais?

Os alunos ficaram calados, cada um com seus motivos para pensar no porque lutariam até a morte. Mira em si filosofou até onde valeria a pena lutar e chegou a outra conclusão, que Matthew em seguida apresentaria.

- Suas próprias vidas. Quando a sua vida está em jogo, a sua honra, sua dignidade e masculinidade, vocês serão capazes de lutar bem. Quando você está no desespero, no bico do corvo, vocês poderão se surpreender com suas capacidades.

Ele não perguntou mais nada e parou apenas por um instante antes de por fim acrescentar.

- O último motivo pelo qual consigo pensar que lutaria até a morte, é por uma mulher. – ele completou, olhando de esguelha para onde sua ruiva estava sentada. Ele esperava que ela o ouvisse e percebesse seu gesto. Seu coração acelerou. – Não uma mulher qualquer; embora um verdadeiro homem sempre lute por uma dama; mas aquela que vocês pretendem dedicar o resto de seus dias. Não necessariamente suas esposas, se me entendem. Encaixa-se naquela outra categoria de honra e masculinidade.

Os rapazes riram e Mira Barlow novamente revirou os olhos.

*****


Nenhum comentário no post passado? Foi um lapso meu não te-lo postado na ordem certa, mas é um bom post... *chora as pitangas*

Fa;cam algumas autoras felizes, comentem o que acharam da historia que leram... Vivemos para isso :D

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Capítulo 01 e meio


Queridas pessoas que estão acompanhando esta história que eu a Raissa amamos escrever, eu pulei um capítulo sem querer.

Este blog é a continuação de uma história que escrevemos no antigo Accio Past e decidimos continuar mesmo sem o blog. Uma leitora comentou que tinha um capítulo que ela adorou no Accio Past e não o viu aqui em Fogo e Gelo (Ana Clara, muuuito obrigada pelo aviso).

Por esse motivo este será um capítulo retroativo porque concordo com a Ana, é neste capítulo que o fogo entre Matt e Mira começa... Além de explicar o feitiço colocado no ferimento dela.

Espero que gostem desta história e me desculpem por este lapso.

Jujub

*****


Deitada em sua cama Mira olhava seu braço, pensativa. Fora ordenada que ficasse descansando, bebendo líquidos e não deveria fazer esforço algum e isso significava não participar do torneio de montaria, que era o principal para ela. No meio dos seus pensamentos, o rosto do seu professor de História Antiga que havia cuidado dela vinha à sua mente. Não sabia o porquê, mas isso a fez ter certeza que estava bem.

Com um leve sorriso no rosto a ruiva se levantou, fora bem cuidada. Tudo o que precisava era cavalgar usando seu braço esquerdo que não teria problemas, não estaria fazendo esforço algum com seu braço direito.

Faltava só meia hora até o começo do torneio, e Mira sabia que ela não teria seu cavalo arrumado como dos outros competidores, fora que teria que colocar a terrível sela feminina. Andou rapidamente até chegar ao estábulo, não queria chamar atenção para si até o momento que dessem a largada.

- Scadufax, meu lindo, vou precisar que hoje tu entendas minha mente. Vou estar diferente quando te guiar... Vais me ajudar? - Mira falava com seu cavalo enquanto o celava. - Seria tão mais fácil sem cela alguma...

Discretamente ela o montou e puxou a manga de sua roupa, cobrindo o curativo que fora feito durante a manhã. Guiando com sua mão esquerda, Mira foi até o ponto onde seria dada a largada. Ela fez questão de não falar com ninguém, fingiu estar concentrada e esperava que não perguntassem sobre o incidente de manhã.

Na verdade, Mira tinha esperança que algumas coisas mudassem na escola no tratamento com as alunas caso Lavinia ganhasse na esgrima e ela ganhasse na montaria. Mesmo os bruxos se orgulhando tanto por serem melhores que os trouxas, o tratamento dado às mulheres ainda era 'ridículo', na opinião da ruiva.

- Boa sorte, Lady Barlow. - Charles Trocken cumprimentava a garota que anteriormente o mostrara que teria uma disputa séria na competição. O rapaz parava ao lado da lufana e sorria. - Teu cavalo é realmente único, ele se destaca no meio de todos os que estão aqui. Se não for muito abuso de minha parte, gostaria de um dia poder montá-lo.

- Obrigada Sir Trocken, mas eu creio que seja difícil isso acontecer. Como te disse anteriormente, ele somente aceita a mim como sua montaria. Mas se queres tanto tentar, podemos marcar.

A resposta foi um sorriso vindo do grifinório, junto com um brilho discreto no olhar. Desde que ouvira a garota falar que ninguém além dela conseguia montar um cavalo tão lindo, ele viu um desafio a ser vencido.

Godric Gryffindor parou em frente a todos os competidores e os chamou para a linha de largada. Explicou a todos que deveriam correr até o marco que se encontrava no final da pista, contorná-lo e voltar. Que a corrida na verdade era mais que somente correr, mas também controlar o animal e fazê-lo obedecer corretamente.

O diretor da família Grifinória parou na linha de largada e esperou todos tomarem suas posições. Mira olhou ao seu lado e viu Naheen tão concentrado para este e para o torneio de saltos, o qual ele participaria mais tarde, que achou melhor não atrapalha-lo. Seguindo seu amigo de casa, a lufana fez o mesmo. Trocou a rédea de mão, segurando com a esquerda e se ajeitou do modo mais confortável e que a machucasse menos em sua cela.

A largada foi praticamente poeira sendo deixada para trás pelos cavalos. As pistas eram largas o suficientes para evitarem colisões e não demorou para que os melhores cavaleiros tomassem a liderança. Charles Trocken, Mira Barlow e Naheen Aziz tentavam cortar Thomas Cole que ganhava a corrida.

O grifinório de olhos bicolores estava lado a lado com a lufana e os dois tentavam ultrapassar o que parecia ser o campeão. Para a surpresa dos dois, o que Gryffindor falara antes era verdade, um bom cavaleiro deveria saber comandar o animal. Cole não conseguiu fazer seu cavalo parar perto do retorno e acabou fazendo uma volta maior do que a necessária, deixando outros competidores ultrapassá-lo.

Para conseguir fazer Scadufax parar no momento certo, Mira viu que precisaria trocar de braço, não teria força nem manejo com o braço que não estava acostumada. Na curva de retorno, a lufana usou seu braço direito para parar seu cavalo e não se surpreendeu quando ele empinou parar retornar. Com um inclinar de corpo a ruiva estava voltando para a linha de chegada.

Ao trocar a rédea de braço novamente Mira viu que tinha feito mais força que deveria e seu corte sangrava novamente. O susto momentâneo a fez diminuir a velocidade e não perceber que Charles e Naheeh a ultrapassaram, e que o primeiro ganhara a competição. Vendo a poeira levantada pelos cavalos de seus competidores a lufana tentou novamente correr mais, mas não conseguiu.

Dessa vez estava realmente preocupada, com o fato de ter reaberto a ferida e com a bronca que certamente levaria da curandeira da escola. Tentou não só chegar logo na linha de chegada, como se afastar da multidão que se formava em volta do vencedor. Pensava em deixar Scadufax no estábulo e discretamente ir até a Lady Skeat pedir ajuda.

A ruiva não teve tempo de perceber que ficara em terceiro lugar e menos ainda tempo de descer do cavalo, o rosto de Matthew Aldearan olhando sério e zangado a fez parar seu cavalo.

- O que pensas que estás fazendo? Não falei que eras para ficar em repouso e não fazeres nenhum exercício? – o professor de História Antiga não elevou a voz. Não a humilharia na frente de todos, mas, ah, a menina sentiria sua ira por te-lo desobedecido.

- Eu não... - Mira não tinha muita opção, fora pega em flagrante e sabia que estava errada, dessa vez. - Eu tive que competir...

- Tu tinhas que me obedecer e ficar quieta. Onde já se viu uma garota competir em montaria e achar que ganharia? Desças agora e venhas comigo. – ele não admitia nenhuma desculpa, sabia que estava mais do que correto e, embora uma ligeira preocupação com o ferimento da menina passasse por sua cabeça, estava concentrado em como iria castigá-la por sua audácia.

Um dos motivos que Mira detestava na cela feminina era que a ajuda masculina para descer era algo necessário, quando se queria descer discretamente e do modo correto, claro. Vendo a mão de seu professor na sua frente ela se viu sem opção. Matthew agarrou o braço bom da menina e não soltou quando ela finalmente havia descido da montaria. Scadufax pareceu pesaroso como sua cavaleira, e o professor não queria saber de ouvi-la.

- E eu tenho todo o trabalho para ficar recolhendo ervas como um reles enfermeiro enquanto ela fica montando cavalos e desobedecendo-me... – ele resmungou para si mesmo.

Poucas vezes Mira chegara a vê-lo tão irritado. Não parecia zangado ou coisa do gênero, ele estava indignado por ter sido desobedecido, e por uma menina.

- Professor, se é que posso sugerir...

- Tu não podes sugerir nada! Tuas sugestões e teus achismos já te levaram em complicações, milady! Achei que era mais inteligente para perceber isso. Além de tu estares encrencada, eu terei que ouvir as reclamações da judia por ter feito um torniquete e não a ter deixado trata-la como ela achava que convinha e mantido-a presa no leito da enfermaria.

- Mas se o professor sabe o que deve ser feito, não é melhor que faça o senhor mesmo o curativo em mim? – Ela arriscou falar, fechando os olhos esperando não ser ainda mais repreendida. Desconcertava-lhe a idéia de ser julgada e contestada por mais e mais pessoas.

Matthew parou para refletir um instante. A proposta era vantajosa, ele teria a oportunidade de ficar sozinho por alguns momentos com a moça, não teria que prestar contas a ninguém. Era tentador.

- Venhas comigo. – Ele disse, e, tomando um caminho completamente diferente, andou com ela até o que seria a sua sala de professor.

Mira entrou com respeito e receio assim que ele a ordenou e fechou a porta atrás de si. Era um lugar meio escuro, lotado de livros e com várias espadas antigas expostas, uma delas, de bainha vermelha e prata, parecia recém usada e sempre bem polida. Lembrando-se de que antigamente Matthew de Aldearan fora um dos melhores esgrimistas da Europa, ela não chegou a se espantar.

- Sente-te na mesa milady. – Ele mandou, enquanto buscava em seu armário panos e as outras coisas necessárias para se fazer um novo torniquete.

Ele tinha idéias, muitas idéias e seus instintos estavam aflorados. Sentia-se aliviado por suas vestes cobrirem-lhe o corpo inteiro, pois haviam coisas que ele ainda não queria que ela visse nele. Remexeu os armários e foi separando o que precisaria: panos, balde para esquentar a água, os vidros de ervas e várias coisas que Mira não sabia para que serviriam. Quando ele se virou, tinha o olhar penetrante, marcado com fogo, do qual a garota não conseguia desviar.

- Eu não sei o que te levou a pensar que poderia desobedecer minhas ordens... - Começou a falar, enquanto gentilmente tirava os panos ensangüentados da garota. – Mas tenhas certeza de que eu não estou disposto a deixar isso acontecer novamente.

Matthew desenrolava os panos enquanto sutilmente percorria a outra mão pelo corpo dela, e embora não fosse ético de sua parte fazer isso, o esgrimista nunca fora do tipo que se importava totalmente com o que chamavam de ‘moralmente aceitável.’

- Eu...não gosto de ser desobedecido – Disse ele pegando suavemente o queixo da jovem e fazendo-a encarar seus olhos. Ela não tinha medo, ele podia deduzir, mesmo assustada, confiava em sua honra de professor. Eram coisas assim que o faziam ter certeza de que ela, sim, seria perfeita para ele.

Posicionou o dedo na testa da menina, enquanto deixava-a sangrar pelo machucado e apertava sua mão firmemente.

- O que fazes? – Mira perguntou em reflexo.

- Algo que me permitirá saber todas as vezes que tu tentares me enganar.

Ele pressionou o dedo contra a fronte dela e fechou os olhos. Então, levou um pouco de sangue do ferimento à boca, engolindo o que se tornaria um laço de sangue entre eles.

- Enquanto durar este corte, enquanto tu ainda estiveres enferma e o sangue contaminado correr nas suas veias, eu saberei todas as vezes que ameaçares forçar os limites que estabeleci. – Matthew respondeu depois de tudo isso feito, ao olhar para o rosto de Mira.

- Tu não...!

- Poder? Eu, como seu professor, como pessoalmente interessado na sua saúde, tenho esse poder, sim, Lady Barlow. Não ouses achar que não posso ou não devo. – Ele complementou com um sorriso sarcástico. – Levantes o braço para eu poder fazer seu curativo com as ervas certas.

Terminaram o curativo em silêncio e Mira não sabia mais se estava agradecida ou não por ele não a ter levado para a enfermaria. Matthew fechou a porta atrás de si, e ainda sentindo o gosto metálico do sangue dela em sua boca, desejou que não fosse só isso que pudesse sentir.