segunda-feira, 29 de junho de 2009

Capítulo 12


Matthew deu um leve aceno com a cabeça quando Mira entrou na sala de aula, carregando sua espada e bainha. O professor não virou-se para falar com ela, continuou juntando o material que iria precisar para aquela aula.

A menina esperou pacientemente sentada numa das cadeiras do recinto, enquanto ele ajustava um pequeno dispositivo e murmurava algumas palavras mágicas. Depois, ele se levantou e deu um sorriso satisfeito para a ruiva.

- Espero que estejas preparada para uma aula bastante distinta, milady. – ele começou e a referida se encolheu um pouco na poltrona onde estava. – Hoje vamos trabalhar com algumas regras básicas.

- Eu imaginei que já estivesse fora do ciclo básico. – ela murmurou baixinho, mais para si mesmo do que para ele.

- Na verdade, estás. – ele respondeu, sorrindo. – Mas esse é o treinamento de regras básicas de um guerreiro. Geralmente, os soldados acabam aprendendo isso em batalha, mas eu posso reproduzir algumas condições para atingir os efeitos desejados.

Mira manteve-se calada e ficou pensando no que poderia estar por vir. Matthew se aproximou dela e estendeu sua mão para que levantasse. Então, sem jeito, demorou-se para decidir se ele mesmo iria prender o dispositivo ou se pediria para que ela o fizesse. O decoro venceu.

- Eu preciso que você ajuste essa caixinha em algum lugar do seu corpo, preferencialmente na parte de cima das suas vestes. – ele pediu, entregando-lhe cuidadosamente na palma da mão.

Era um cubo preto e com um feitiço aderente numa das faces. A menina o olhou interrogativamente, mas ele não disse nada. Então, ela prendeu a pequena caixa ao lado de seu ombro direito e ele se colocou no outro lado do quarto.

- Essa será sua primeira lição, Mira. – ele disse, deixando escapar o nome dela, que ele tanto gostava de falar. – Me machuque.

A ruiva arregalou os olhos e respondeu com um sonoro ‘Quê?’ de surpresa.

- Tu me ouviste corretamente. – ele confirmou e repetiu. – A tua primeira lição consiste em me machucar.

Ela olhou para a espada em sua mão.

- Podes utilizar sua varinha. – Matthew adicionou. – Aliás, podes utilizar tudo que estiver ao seu alcance, mas tu tens que me machucar.

A jovem ficou um instante muda. “Eu não quero machuca-lo. Ele nem está com qualquer tipo de arma! A varinha e a espada dele estão guardadas!”.

- Eu estou ficando impaciente, Mira. – ele avisou. – Ou me machucas ou vamos acabar com nossas aulas hoje mesmo.
Ela suspirou.

- Eu não quero.

- Bom, então, nossa aula acabou. Tu não tem o que precisa para ser um bom guerreiro e, portanto, não tem o menor sentido eu continuar te ensinando como lutar. Não sei por que perdi meu tempo. – ele falou e saiu da posição onde estava, descruzando os braços.

- Espere... – ela falou subitamente. Estava tentando se acostumar com a idéia.

- Confie em mim. Me machuque. – o professor falou para ela e olhou diretamente em seus olhos.

A ruiva deixou se perder nos olhos verdes daquele homem por um instante apenas e suspirou novamente.

- Está bem.

Então, sem aviso, com uma vontade fora de si, Mira tentou dar uma estocada no ombro de seu professor. Naquele momento, um choque estranho partiu de seu ombro e atingiu no corpo inteiro. Ela parou, imobilizada, sem ar do susto e da dor. Não conseguiu gritar e ele a observou cair de joelhos, com o coração na mão.

- Mira?– ele a chamou, sem sair do lugar onde estava colocado. – Levante.

Ela ouviu o comando dele e tentou se colocar de pé.

- O... que... foi... isso? – disse, entre uma tomada de fôlego e outra.

- Eu ajustei a caixa para te dar um choque cada vez que você tentar investir contra mim.

- QUÊ?

- Sim. E a lição ainda não acabou. Tu precisas me atingir! – ele disse.

Aquilo soou muito cruel para a cabeça dela e dele. A jovem ficou extremamente indignada com seu professor, que a machucava enquanto tentava fazer com que ela o machucasse. Soava como uma brincadeira sadomasoquista. E ele sentiu-se mal por estar submetendo-a àquilo, mas era a primeira lição crucial que um guerreiro aprendia em batalha. Se ela não conseguisse sobreviver àquilo, bom, ela não seria nunca uma boa espadachim.

A raiva deu um novo ânimo de energia na disposição de Mira para machucar aquele homem à sua frente. Investiu novamente com fúria, dessa vez lançando seu corpo inteiro em cima dele.

- AAAAAH! – ela deixou escapar enquanto o choque percorria seu corpo, não menos pior do que na primeira vez.


- Mira, precisas te levantar. – ele a comandou novamente, enquanto a assistia voltar ao chão, depois do golpe que a caixinha lhe aplicara.

“Tem que haver algum truque”, ela pensou consigo mesmo. “Algum jeito de atingi-lo que não faça isso me dar choque. Alguma coisa.”. E Matthew percebeu pelo jeito como a menina olhava ao seu redor no que ela estava pensando.

- Não existe. Vais me atacar e vais tomar choque. Tu precisas ser forte e agüentar como um... – ele ia dizer homem, mas trocou a palavra - ... guerreiro.

Mira entendeu o que ele iria dizer e ficou ainda mais raivosa.

Aquela situação se repetiu por ainda mais algumas vezes, até que o ódio que tomou conta do corpo dela venceu toda a dor que estava sentindo.

- Eu... – *choque* – VOU – *choque* – CONSEGUIR – *choque* – SEU BASTARDO! – *choque* – *choque* – *choque*.

A ruiva tentou não cair quando a seqüência de choques tornou-se quase ininterrupta e avançou o mais rápido que pode para o homem que estava a sua frente, com o coração na boca e olhos esperançosos. Ela enfiou com tudo a espada no pé do homem e ele soltou um grunhido de dor.

- Você conseguiu. – disse ele, enquanto parava para tomar ar.

A ruiva colapsou no chão.

Matthew sorriu enquanto arrancou com tudo a espada cravada em seu pé e foi até o armário para procurar os primeiros socorros que iriam estancar o fluxo de sangue.

Mira acordou deitada em cima de um monte de mantas acolchoadas no chão da sala de seu professor. Demorou alguns instantes para lembrar do que havia acontecido e sentiu a raiva queimar suas bochechas.

- O que foi tudo aquilo? – Ela perguntou, sentindo seu corpo doer, ao ver o professor sentado ao seu lado, observando-a. – Há quanto tempo estou aqui?

- Uma hora, mais ou menos. – ele respondeu e acrescentou, numa voz que mal disfarçava o orgulho em sua voz. – Parabéns.

Matthew sorriu e Mira estendeu a mão para lhe dar um tapa.

- Não precisa, já me machucaste o suficiente hoje. Vês? – ele apontou para o pé, que estava enfaixado e ensangüentado. – Isso foi a sua espada e se fosse um inimigo você o teria debilitado seriamente com uma hemorragia.

Ele parou por um instante para respirar e repetiu o “Parabéns”.

- Parabéns pelo quê? – ela perguntou, com a fúria contida na voz. – Por ter te machucado e me machucado? Por ter sido idiota de não ter parado antes de te acertar?

Ele a observou cuidadosamente.

- Tu podes ainda não ter racionalizado, mas acabou de aprender a primeira lição do guerreiro em batalha. – ele explicou. – A maior parte dos soldados entra em combate muito mais preocupado em não se machucar do que acertar alguém. O bom guerreiro SABE que vai se machucar, que vai doer. Mas ele não pára. Ele está lá para acertar alguém. E é esse seu objetivo. Machucar, não importa o quanto estás sendo machucado. E quando conseguiste fincar tua espada em meu pé, apesar de saber que levaria choques, teu corpo, teu coração e teu espírito entenderam isso.

Matthew prendeu a respiração para ver como a menina reagiria ao que ele havia dito. Esperava que ela o compreendesse e perdoasse, mas sabia que estava fazendo a coisa certa, se ela quisesse continuar a aprender a lutar.

- Eu... entendo. – Mira respirou fundo. Sua cabeça estava confusa. Ela havia entendido exatamente o que ele havia feito, mas não conseguia se impedir de estar com raiva. Ao mesmo tempo, não queria entender. Ele a havia machucado! Ela o havia ferido!

- Eu sei o que estás passando. – ele falou, suspirando. – Eu passei pela mesma lição. De uma forma pior. Eu estou tentando fazer com que seja menos doloroso com ti, mas não pude evitar.

- Eu... preciso me recolher. – ela disse e ele, pela primeira vez desde que haviam começado esses encontros lúdicos, temeu que ela fosse abandoná-lo em suas lições. Matthew a ajudou a levantar e a levou até a porta, dando em sua mão um frasco.

- Tomes antes de deitar, vai acordar bem pela manhã. – ele recomendou, olhando para baixo.

- Obrigada. – ela respondeu, também olhando para o chão. – Até a próxima, professor, nesse mesmo horário.

Ele sorriu e acenou enquanto ela partia. Estava orgulhoso.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Capítulo 11


Havia se passado poucos dias desde que a ouvira chamar diretamente pelo nome e desde então ele quase não a vira mais. Matthew de Aldearan contava os momentos em que ficou sozinho com sua pupila e, para sua felicidade, aumentava cada vez mais e também pela vontade dela.

Aquela seria a semana de provas na escola então ele achou mais sensato não marcarem nenhum treino até chegar o final da semana ou ela poderia adormecer em cima do pergaminho. O que não quer dizer que ele não sentisse falta de poder se dirigir a ela com mais intimidade.

Era noite de quinta-feira e ainda faltava mais de um dia para poder finalmente voltar a dar aulas à Mira. O professor de historia não precisava se preocupar em descansar, pois, no dia seguinte, não teria classe nenhuma a dar, mas, para os padrões da sociedade, ainda era cedo para começar a beber.

- Professor, deve te recolher antes que algum aluno o veja neste estado. – o zelador da escola falou ao entrar na sala para entregar um recado do prof. Slytherin.

Matthew estava na sua sala e até por isso não se preocupara com as aparências. Não acreditava que alguém fosse falar com ele na noite anterior as ultimas provas e por isso não se recolheu para experimentar a sua nova garrafa de firewisky, presente de um pai agradecido por ter ensinado disciplina ao filho.

Um pouco irritado por ter ouvido repreendas de alguém inferior e mais ainda por que não estava em estado mental para responder antes que o outro saísse da sala.

- Saco! *ic* Melhor eu *ic* fica na paz da minha sala de aula, *ic* onde poderei ao menos imaginá-la.

Apesar de já estar em um estagio onde muitos o chamariam de bêbado, Matthew não teve dificuldades em subir para a sala de treinamento de esgrima. O seu maior problema foi como levar sua garrafa e seu copo junto, mas uma bolsa bem presa foi uma solução rápida achada pelo mestre de esgrima.

Com um sorriso estampado no rosto ele se jogou na cadeira utilizada para estudo dos livros de esgrima, um local ultimamente utilizado somente por sua aluna, pois seus alunos preferiam aula pratica e somente poucos escolhidos tinham a honra de poder ler os livros de Matthew de Aldearan.

- Droga... A garrafa não vai durar nem uma hora e a outra está na sala abaixo... – Ele praguejou em voz alta.

- Que bom, assim tu paras um pouco e respiras. – Uma voz em tom zangado falou atrás dele.

Mira fora para a sala de esgrima para tentar estudar a parte teórica de poções, aula que não era muito boa. Ela se sentia bem naquela sala, mais relaxada e, aproveitando o silencio do local, ficou o final da noite toda lá estudando. Somente parou ao ouvir o dono da sala chegar e sentar na cadeira, colocando sua garrafa de bebida na mesa.

A lufana o observou um pouco, pensando em como falaria que estava lá sem a permissão dele. Também tinha duvidas como ele a trataria, pois o seu estagio de bebedeira era claro e ela sempre ouviu que muitos homens bêbados perdiam noção de como tratar uma dama. Mas ao vê-lo beber de uma única vez um copo cheio de firewhisky Mira não se conteve e foi falar com ele, não gostou de vê-lo naquele estado.

O susto do professor fora tanto que, por alguns instantes, a sobriedade voltou-lhe à cabeça. Naqueles breves momentos, algumas perguntas muito claras passaram-lhe ao pensamento: “O que você está fazendo aqui? Por que não pediu minha permissão?” e, por fim, com o álcool voltando a fazer-se presente: “Por que não estou te beijando?”.

Ele limpou a vista para ter, primeiramente, certeza que não estava falando com uma de suas alucinações e decidiu que era conveniente perguntar-lhe apenas as duas primeiras questões:

- O que estas fazendo aqui sem minha permissão? – disse, orgulhoso por ter conseguido formular uma única frase sem um soluço de bêbado no meio.

Mira parou um pouco antes de responder. Estava pensando exatamente no que diria e ao mesmo tempo, decidia-se entre manter a linha zangada que estava fazendo ou então, baixar a cabeça como uma aluna subserviente deveria ser. Por um lado, conhecia Matthew o suficiente para dar-lhe um pouco mais de intimidade para abandonar a segunda opção. Por outro lado, seu professor estava completamente bêbado e ela sempre tivera o cuidado de evitá-lo nesses estados justamente por saber que não o conhecia suficientemente para prever seu comportamento quando estava fora de sua mente.

A ruiva abriu a boca para falar a primeira coisa que lhe veio à cabeça, mas descobriu que isso traduzia-se em nada. Parou, um tanto quanto como parva, com a boca aberta, como se à meio caminho de dizer algo que não deveria.

Ou foi assim que Matthew entendeu seu comportamento e aquilo, como sempre fazia, aguçou sua curiosidade. Ao mesmo tempo em que percebia que poderia ficar extremamente irritado com o que ela diria, queria, desesperadamente, saber o que ela estava pensando. Não passava-lhe pela cabeça nem a mais leve idéia do que levaria sua aluna a estar ali, num dia em que não tinham aula, que ela não precisava arrumar a sala,e, principalmente, às vésperas de uma prova importante.

Antes que a esperança de que ela pudesse estar ali para simplesmente vê-lo ficasse forte, o professor decidiu pressioná-la com um:

- E então, Milady?
Mira começou a andar na direção do professor, que inspirou profundamente para se controlar.

- O castelo está todo desordenado, professor. – ela começou, tentando firmar as palavras que dizia. – Eu não estava conseguindo estudar. Então, eu pensei nessa sala para ficar com meus livros. Achei que o senhor não fosse se incomodar...

Matthew olhou para a ruiva e um pouco de frustração passou por seu olhar. Não adiantou tentar não pensar nisso: no fundo, acreditou que ela estivesse ali para vê-lo. Reprimiu o máximo que pode na voz:

- Ah. – foi só o que conseguiu dizer. – Eu acho que está tudo...

E Matthew cambaleou para o lado, sem conseguir terminar a frase. Apoiou-se na mesa onde estava a bebida e o firewhisky quase tombou com o tremor.

- Professor? – Mira perguntou quando viu a cena. Sentiu seu coração apertado e a raiva que sentira no início voltando à tona.

Matthew não respondeu ao chamado. Sua mente estava se anuviando novamente. “Bela hora para me falhar, fígado”, pensou consigo mesmo. “Justamente na frente dela. Obrigado mesmo!”. Ficou com raiva por ela estar ali e por ter bebido tanto.

A ruiva ao ver que ele não se levantava da mesa onde se apoiara e empalidecia à olhos vistos, aproximou-se:

- Eu vou lhe ajudar a sentar. – ela disse, e pegou-o pelo braço, vendo que este pesava muito, quase tanto quanto seu tio, a quem ela fora buscar deitado no chão uma noite. A primeira noite que o encontrara, coincidentemente – ou não.

O homem sentiu-se envergonhado. Não conseguia nem sentar-se sozinho. Tudo lhe parecia falhar naquele momento: o fígado, o braço, que repentinamente voltava a doer com a ferida de anos atrás, as pernas, pela proximidade enorme com o corpo da jovem ruiva.

Ela apertou os lábios um contra o outro, talvez pela força que fizesse ou pelo desgosto que sentia na situação e, como nunca há tanto tempo, o professor sentiu vontade de se espancar.

- Eu não preciso de... – começou a dizer ele, tarde demais. Ela não o deixou terminar e o ajudou a sentar-se na cadeira que havia perto da mesa, deixando-o completamente sem palavras.

Mira suspirou, impaciente:

- Não devias ficar tão bêbado, Matthew. – disse ela, com raiva contida na voz, mesclada a um pouco de preocupação.

As palavras dela o deixaram irado:

- Eu não estou bêbado! – falou ele, com a voz alterada e engrolada. Levantou-se para provar seu ponto e cambaleou de novo, dessa vez, apoiando-se na estante que havia ao lado da cadeira.

Dessa vez, as conseqüências foram piores: a estante não estava bem apoiada e pendia para frente por causa da quantidade de livros. Ao puxá-la pela prateleira para apoiar-se, o professor a fez tombar de vez para frente, derrubando livros, objetos, entre outros, em cima de sua aluna.

Mira não teve tempo para pensar ou reagir, apenas viu o que ia acontecer em câmera lenta e ficou paralisada em seu lugar. Matthew, ao sentir que a estante caia e ao perceber que iria acertar a sua garota, teve uma resposta mais rápida: atirou-se em cima dela, cauteloso, porém certeiro, lançando-se contra o móvel.

Apos ouvir o som dos objetos caídos Mira abriu devagar os olhos, surpresa por não ter sido acertada por nada. Ela ficou mais surpresa ainda a se ver envolta nos braços de Matthew que segurou a estante com suas costas, protegendo-a. O professor agüentara o peso do objeto e naquele momento forçava a estante de volta para o lugar.

Sem perceber o que fazia, Mira virou de frente para Matthew e, focando na estante, colocou as mãos na madeira e fez força para endireitá-la. A ruiva não percebeu que ficara em uma posição bastante comprometedora, pois se preocupava se ele estava machucado. Em compensação o esgrimista se forçava em colocar sua força e atenção no objeto a suas costas e não no corpo praticamente colado ao seu.

Após conseguirem colocar a estante em seu lugar Mira virou o rosto para o homem a sua frente e percebeu que um dos braços dele ainda a segurava.

- Obrigada por me proteger. – Ela falou sem conseguir soltar os olhos dele.

O homem não a respondeu somente sentiu o calor do corpo dela, que não se afastara dele. Até aquele dia Matthew se conteve todas às vezes em que estivera tão próximo daquela que a cada dia que passava lhe dava a certeza que seria sua, mas naquele momento ele jogou toda a razão para o fundo da mente. Queria provar aqueles lábios, queria e iria saber o sabor daquela garota.

Mira viu o rosto dele se aproximar. Ficou fascinada pelo beleza do rosto de Matthew, mas o cheiro da bebida que vinha dele a despertou. Mesmo que por alguns minutos ele teve sobriedade para salva-la, ele ainda estava bêbado, não sabia o que estava fazendo.

- Pare. – Ela falou colocando uma de suas mãos no peito de Matthew o empurrando.

Naquele momento, uma dor agoniante na coluna atingiu o professor, que arquejou, sem conseguir evitar um “ai”.

- Estás bem? – disse a menina que arrependeu-se de ter empurrado-o, preocupada e Matthew percebeu que havia arruinado o momento. Ela desvencilhou-se de seu abraço e puxou-o para o lado, com um atencioso: "Deixe-me ver suas costas.".

Matthew a deixou passar a mão em suas costas de forma dócil, pensando que talvez o que acontecera fosse para o melhor. Não gostaria que o primeiro beijo entre os dois tivesse gosto de álcool para ela. Tampouco gostaria de perder o controle sobre a situação – o que claramente era algo que o álcool o deixava propenso a fazer.

- É aqui que dói? – perguntou Mira o acordando de seus pensamentos. Ela apertou gentilmente o lugar e Matthew concordou com a cabeça e um muxoxo. – Bom, isso é porque deves ter uma área arroxeada imensa aí.

Ele sentiu ela o puxar em direção a porta, claramente desejava levá-lo a enfermaria. Mira estava mais preocupada com ele do que com o que poderiam falar ao vê-la naquela hora ao lado de um homem mais velho e bêbado.

Com um leve sorriso no rosto ele olhou para ela.

- Ficarei bem, é somente um ferimento superficial, nada que devas se preocupar. – Ele falou. – Deves ir e não se preocupes com a bagunça. Deves descansar para sua prova amanhã.

- Mas... – Ela começou a falar, mas foi interrompida.

- Obedeça-me. – Ele falou, mas ao contrario do que Mira esperava o tom não era de ordem, mas de uma suplica.

Com uma leve reverência ela saiu sem entender direito o que acontecera. Matthew sentou-se na cadeira ao lado da estante, que agora parecia firme em seu lugar, e apoiou a cabeça para trás. “A culpa é dela. Sempre me tentando, com teu cheiro, teu sorriso! Tudo nela me faz esquecer que existe todo um mundo de regras e convenções ao meu redor...”.

E ele balançou a cabeça, com cuidado e tirou as vestes, olhando no espelho para ver o tamanho do estrago. Médio. “Aprendi que tudo passa tomando chá ou whisky”. Olhou ao seu redor. “E como não vejo nenhum bule por aqui...”.

Matthew entornou a garrafa sem se preocupar com trivialidades como copo. Cambaleou até a cama e, sem sentir mais nada, caiu lá e ali ficou até a noite seguinte.


*****


Oi pessoal!

Descupem esses dias sem nova postagem, mas a preparação para as férias no trabalho está tomando mais do que tempo. A mente já está pedindo arrego... Mas não se preocupem porque eu e Raíssa escrevemos quase todos os capítulos já ;)

Beijões

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Capítulo 10


Eram dez horas da manhã e Matthew de Aldearan caminhava pelos corredores de Hogwarts em direção aos jardins. Ele queria sentir o vento fresco bater-lhe no rosto, o acordando.

O sonho que tivera durante a noite fez com que naquela manhã o professor de história e esgrima de Hogwarts decidisse caminhar ao invés de ficar em seu gabinete curando sua ressaca.

Ele sentou no gramado um pouco distante, observando a paisagem. A imagem dos cabelos de fogo esvoaçando pelo campo enquanto corria... Ela sorria para ele, como em uma brincadeira de criança... Isso ficara marcada na mente de Matthew. Aquela fora mais uma noite onde ele sonhara com Mira, mais um sonho de muitos desde que a vira e desejara.

Desde que ele ficara devendo as aulas de esgrima, sim, agora era ele que devia aulas a ela. Algumas coisas mudaram entre eles. Durante as aulas de história ele a via observando-o e na última aula de esgrima o empenho dela aumentara e a ruiva aprendera em horas o que normalmente ele demoraria dias ensinando.

O esgrimista não sabia dizer o que mudara, mas o ar entre eles era outro e ele sentia que a cada dia caminhava um passo em relação à conquista dela. Perguntava-se por que fazia tanta corte a uma menina quando o que deveria seria simplesmente acordar o dote e tê-la para ele.

O sorriso que lhe fora dirigido em seu sonho era a resposta da pergunta, era algo que almejava receber da lufana, espontaneamente.

O som de vozes femininas tirou o homem de seus pensamentos. Matthew virou o rosto e viu que várias alunas seguiam a professora Hostilia Gryffindor em direção ao estábulo. Ele reparou que ao final do grupo seguia a mesma jovem que dominou seus pensamentos pela manhã.

O rosto cabisbaixo e sério da garota mostrava que algo estava acontecendo e a contragosto dela. Ele se segurou para não ir até ela e perguntar o que pensava. Havia algo nos olhos negros de Mira que o atraíam, principalmente quando fazia o que acreditava ser certo e que contrariava as regras.

Os olhos verdes do professor acompanharam a ruiva por todo o trajeto, observando cada movimento, cada passo. Ele viu em um momento ela dar um leve soco para baixo e soube que ela ia aprontar algo.

Sem esperar para ver a distância o que aconteceria, ele se levantou e andou calmamente até onde estavam as alunas. Pelo burburinho pode ouvir que seria aula de etiqueta sob a cela e como domar um cavalo rebelde.

Ele observou Gryffindor sair primeiro e pouco a pouco as alunas a seguirem. Ouviu uma delas falando que estava com pena do cavalo branco de Mira, que era o alvo principal da rígida professora.

Após a última garota sair Matthew estranhou, pois a lufana que aguardava não aparecera. Sem se importar em ser visto ou não, ele entrou no estábulo. Para a surpresa do professor o que ele viu foram as costas da ruiva que, montada em Scadufax, saía pelos fundos do estábulo.

Com um sorriso matreiro no rosto, o professor montou em seu cavalo e, à distância, seguiu Mira.

A ruiva andava em Scadufax silenciosamente e por isso evitava cavalgar. Não queria chamar a atenção de sua professora que deixara bem claro que seu cavalo seria o exemplo de como domar um animal rebelde. Ela preferia ficar em detenção depois a ver sua montaria ser machucada.

A ruiva andou pela floresta que conhecia bem. Iria ficar por ali um tempo, provavelmente a manhã toda. Perderia também mais uma aula, mas ela estava certa que era o melhor a ser feito. Queria e iria preservar Scadufax.

Ao avistar uma clareira só um pouco mais para dentro da floresta, Mira direcionou sua montaria àquela direção. Ela reparou que estava a uma boa distância do castelo e que, onde estava, não seria um lugar fácil de achá-la. A ruiva desceu e deitou na grama, descansando. Enquanto estivesse ao lado de Scadufax, não precisava se preocupar. Ele a avisaria se alguém se aproximasse.

Um pouco afastado da clareira Matthew observou seu alvo descer do seu cavalo e deitar na relva. A cena da luz do sol batendo no corpo de Mira o fez decidir que ela saberia que ele estava ali presente. Não seria um mero expectador à distância.

O mestre de esgrima andou até onde estava a ruiva, mas parou ao ouvir o relinchar do cavalo dela. Scadufax avisava sua dona que alguém se aproximava, o que fez Mira sentar e ver o moreno se aproximar.

- Matthew... – Ela falou baixou, mais para si. Mas foi o suficiente para que o homem ouvisse que ela o chamara pelo seu nome.

Com um meio sorriso no rosto ele se aproximou e sentou ao lado de Mira que não se mexeu. Ela o observou, esperando entender o que ele fazia. A cada momento em que ela jurava que o conhecia, ele a surpreendia fazendo algo como aquilo, sentar ao lado dela ao invés de repreendê-la por cabular aula.

- Me seguiste? – Ela perguntou.

Mais uma pergunta direta, ele pensou. A diferença era que o rosto dela não o desafiava, era mais uma pergunta simples como “Está sol?”.

- Não, estava passando quando a vi sair no sentido contrário das outras alunas. – Ele parou e deu um meio sorriso ao completar a fala. – Não acredito que aula de etiqueta seja algo que a agrade...

- Não é tão simples assim. Não é a aula de etiqueta, mas a imposição de coisas que não são úteis... – Ela pensou um pouco mais antes de continuar. – Qual a finalidade em saber que é a mão direita que deve ficar sobre a esquerda e não o contrário, senão é considerado algo grosseiro.

O homem riu ao ouvir aquilo, não conseguia se imaginar perdendo seu precioso tempo com coisas inúteis como aquilo. Apesar de achar que tinham certas coisas que deveriam ser ensinadas as damas, principalmente como tratar um homem.

- Deves aprender a se portar perante a sociedade e é para isso que as damas da escola devem fazer essa aula.

- Eu que devo decidir como me portar. – Mira falou. – Junto com meu futuro marido, é claro... – Ela completou falando, diminuindo o tom de voz a cada sílaba.

- Há lugares que somente um homem pode te levar. E por homem, quero dizer um marido. - Ele disse e percebendo que ela o olhava um tanto quanto ressabiada, continuou. - E não o digo apenas em relação aos mistérios do casamento, mas sim em termos de sociedade, destaque, vida.

- Não que eu realmente me importe com a sociedade... - Ela falou jogando o cabelo para trás de uma forma que captou o olhar do professor.

- Mas tu o és obrigada a fazer, pois, afinal, vives dentro dela, relaciona-se com ela e com todas as suas pequenas regras e convenções. - Ele continuou, mudando o foco dos ombros da garota para os olhos dela. - Deixe-me exemplificar:

E com tom professoral ele começou a discorrer:

“Imagine que um dia você se torne uma excelente espadachim, alguém muito superior ao atual campeão de torneios entre feudos, abaixo somente de mim e de Deus. Algo muito difícil de acontecer, mas não duvido de minhas capacidades de lhe ensinar o que sei. Enfim, vamos supor que isso um dia ocorra.
Você nunca poderia entrar num torneio para competir. Talvez disfarçada como homem, como recentemente tornou-se moda entre as damas rebeldes, que, talvez até tenham seu charme, mas cujo fim é lendariamente triste – seus homens se apaixonam por elas, mas, como se recusam a casar, acabam abandonadas depois de usadas até a exaustão. Caprichos de mulher? Não, caprichos de homem.
De qualquer modo, nunca lhe aceitariam que é melhor do que o campeão, nem vencendo numa luta justa. Alguma penalidade lhe teria sido imposta, atribuir-se-ia alguma fraqueza, alguma desonestidade acometeria ao homem e você seria uma rameira vil que teria maculado a santidade do torneio.
Entretanto, caso se casasse – comigo, ele quase deixou escapar e corrigiu a linha de pensamento que viria a seguir. – você poderia exaltar a glória de seu marido, que teria uma mulher que poderia se defender e defender sua propriedade caso se encontrasse fora. Além do quê, valorizaria sua pureza, caso alguém tentasse lhe acometer um crime, estaria salva a honra. Poderia até entrar em algum torneio, e talvez fosse até reconhecida como uma espadachim de primeira, talvez não.
Mas seria lhe dada uma chance honesta de tentar...”


Ele terminou seu pensamento abruptamente. Em sua cabeça, seria ele o marido orgulhoso de sua amada, que seria como o braço que lhe faltava – justo e impetuoso contra os inimigos, um instrumento de glória, uma constante fonte de prazer.

Percebia agora que amava Mira Barlow por tudo que ela era e pelo futuro brilhante que poderia ter. E por teu cheiro, cabelos ruivos, por teu corpo com o qual ele sonhava, por teu espírito tão parecido com o dele. Como lhe daria orgulho vê-la arrasando qualquer imbecil que se julgasse campeão de algo que não fosse bola!

- Como vês casar não é de todo mau. - Ele complementou.

- Casar significa que deixo de ter voz com o resto do mundo, significa baixar a cabeça à vontade de alguém e... - Ela calou como se percebesse de repente com quem estava falando.

- E? - Encorajou ele. - Não se reprima. Hoje não estamos como professor e aluna aqui, mas sim, como deveriam um homem e uma mulher poder conversar...

- E me entregar a alguém. - Ela baixou a cabeça. Seu rosto pareceu tão triste e angelical quanto podia, mostrando uma dualidade que atingiu o homem igualmente. Matthew quis abraçá-la e ao mesmo tempo mal pode conter de se atirar a ela, agarra-la e mostrá-la as vantagens imediatas do casamento... - De corpo, mas talvez não de alma. Não se eu não puder escolher com quem eu devo casar.

- Ah. - Ele disse, sacudindo os instintos anteriores, satisfeito por ver que ela planejava escolher seu pretendente e não simplesmente acatar a decisão dos pais. Encaixava-se com seu plano de corte. - Nem todos os casamentos são arranjados, e nem todos são ruins.

Depois ele continuou.

- Quanto a ter voz com alguém, isso tu não tens. Tu és mulher. Acate este fato e aceite-o com orgulho. É um fardo que alguém tem que carregar. Quando eu era menor e pensava que eu era o dono do mundo, desprezava meu pai por ter sido um homem fraco e se deixado vencer por outro ser humano - minha mãe. Entendo hoje o que ele quis dizer com: “o homem pode ser a cabeça de uma família, mas a mulher é o pescoço – que dobra a cabeça para o lado que bem entender.” Tu terás esse poder quando casar.”

- Como podes ter tanta certeza? - Mira perguntou.

- Ele era meu pai e ele estava certo. Eu tenho seu sangue nas veias, logo, também devo estar. - Ele riu ao se ouvir falar aquilo. - As coisas simplesmente são assim. Tu te lembrarás disso quando casar.

Ela calou-se e ele também. Por alguns segundos os dois somente se olharam, observando o que acabara de acontecer entre eles. Algo estava diferente e nem mesmo eles conseguiam definir o que era.

Scadufax relinchou e a égua montada por Matthew, Eva, também. O professor se levantou e esticando a mão para a menina, informou-a de que talvez fosse hora de voltar ao castelo. Poderiam achar que ela fugira, e não que fora convocada por seu professor de história para uma vistoria de rotina no braço que fora machucado.

- Mas ele já sarou. – Ela disse.

- Você me entendeu. - Ele respondeu e voltaram ao castelo.

Ele à frente, ela depois, como bem convinha a um homem e a uma mulher. Mira precisava se reencontrar com sua turma e Matthew precisava urgentemente de um copo de seu whisky precioso.

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Gentem, fico tããão feliz quando leio um comentário!!

Espero que este capítulo tenha sido mais longo, já que o último foi curtinho.

A Katchianya colocou um box de mensagens na lateral (comentários e sugestões sobre o blog e toda a históia) e também conseguiu habilitar para que pessoas conseguissem colocar comentários sem conta do gtalk ou affins, podendo ser anônimo.

Booom, por hoje é só pessoal.

Beijões