segunda-feira, 1 de junho de 2009

Capítulo 10


Eram dez horas da manhã e Matthew de Aldearan caminhava pelos corredores de Hogwarts em direção aos jardins. Ele queria sentir o vento fresco bater-lhe no rosto, o acordando.

O sonho que tivera durante a noite fez com que naquela manhã o professor de história e esgrima de Hogwarts decidisse caminhar ao invés de ficar em seu gabinete curando sua ressaca.

Ele sentou no gramado um pouco distante, observando a paisagem. A imagem dos cabelos de fogo esvoaçando pelo campo enquanto corria... Ela sorria para ele, como em uma brincadeira de criança... Isso ficara marcada na mente de Matthew. Aquela fora mais uma noite onde ele sonhara com Mira, mais um sonho de muitos desde que a vira e desejara.

Desde que ele ficara devendo as aulas de esgrima, sim, agora era ele que devia aulas a ela. Algumas coisas mudaram entre eles. Durante as aulas de história ele a via observando-o e na última aula de esgrima o empenho dela aumentara e a ruiva aprendera em horas o que normalmente ele demoraria dias ensinando.

O esgrimista não sabia dizer o que mudara, mas o ar entre eles era outro e ele sentia que a cada dia caminhava um passo em relação à conquista dela. Perguntava-se por que fazia tanta corte a uma menina quando o que deveria seria simplesmente acordar o dote e tê-la para ele.

O sorriso que lhe fora dirigido em seu sonho era a resposta da pergunta, era algo que almejava receber da lufana, espontaneamente.

O som de vozes femininas tirou o homem de seus pensamentos. Matthew virou o rosto e viu que várias alunas seguiam a professora Hostilia Gryffindor em direção ao estábulo. Ele reparou que ao final do grupo seguia a mesma jovem que dominou seus pensamentos pela manhã.

O rosto cabisbaixo e sério da garota mostrava que algo estava acontecendo e a contragosto dela. Ele se segurou para não ir até ela e perguntar o que pensava. Havia algo nos olhos negros de Mira que o atraíam, principalmente quando fazia o que acreditava ser certo e que contrariava as regras.

Os olhos verdes do professor acompanharam a ruiva por todo o trajeto, observando cada movimento, cada passo. Ele viu em um momento ela dar um leve soco para baixo e soube que ela ia aprontar algo.

Sem esperar para ver a distância o que aconteceria, ele se levantou e andou calmamente até onde estavam as alunas. Pelo burburinho pode ouvir que seria aula de etiqueta sob a cela e como domar um cavalo rebelde.

Ele observou Gryffindor sair primeiro e pouco a pouco as alunas a seguirem. Ouviu uma delas falando que estava com pena do cavalo branco de Mira, que era o alvo principal da rígida professora.

Após a última garota sair Matthew estranhou, pois a lufana que aguardava não aparecera. Sem se importar em ser visto ou não, ele entrou no estábulo. Para a surpresa do professor o que ele viu foram as costas da ruiva que, montada em Scadufax, saía pelos fundos do estábulo.

Com um sorriso matreiro no rosto, o professor montou em seu cavalo e, à distância, seguiu Mira.

A ruiva andava em Scadufax silenciosamente e por isso evitava cavalgar. Não queria chamar a atenção de sua professora que deixara bem claro que seu cavalo seria o exemplo de como domar um animal rebelde. Ela preferia ficar em detenção depois a ver sua montaria ser machucada.

A ruiva andou pela floresta que conhecia bem. Iria ficar por ali um tempo, provavelmente a manhã toda. Perderia também mais uma aula, mas ela estava certa que era o melhor a ser feito. Queria e iria preservar Scadufax.

Ao avistar uma clareira só um pouco mais para dentro da floresta, Mira direcionou sua montaria àquela direção. Ela reparou que estava a uma boa distância do castelo e que, onde estava, não seria um lugar fácil de achá-la. A ruiva desceu e deitou na grama, descansando. Enquanto estivesse ao lado de Scadufax, não precisava se preocupar. Ele a avisaria se alguém se aproximasse.

Um pouco afastado da clareira Matthew observou seu alvo descer do seu cavalo e deitar na relva. A cena da luz do sol batendo no corpo de Mira o fez decidir que ela saberia que ele estava ali presente. Não seria um mero expectador à distância.

O mestre de esgrima andou até onde estava a ruiva, mas parou ao ouvir o relinchar do cavalo dela. Scadufax avisava sua dona que alguém se aproximava, o que fez Mira sentar e ver o moreno se aproximar.

- Matthew... – Ela falou baixou, mais para si. Mas foi o suficiente para que o homem ouvisse que ela o chamara pelo seu nome.

Com um meio sorriso no rosto ele se aproximou e sentou ao lado de Mira que não se mexeu. Ela o observou, esperando entender o que ele fazia. A cada momento em que ela jurava que o conhecia, ele a surpreendia fazendo algo como aquilo, sentar ao lado dela ao invés de repreendê-la por cabular aula.

- Me seguiste? – Ela perguntou.

Mais uma pergunta direta, ele pensou. A diferença era que o rosto dela não o desafiava, era mais uma pergunta simples como “Está sol?”.

- Não, estava passando quando a vi sair no sentido contrário das outras alunas. – Ele parou e deu um meio sorriso ao completar a fala. – Não acredito que aula de etiqueta seja algo que a agrade...

- Não é tão simples assim. Não é a aula de etiqueta, mas a imposição de coisas que não são úteis... – Ela pensou um pouco mais antes de continuar. – Qual a finalidade em saber que é a mão direita que deve ficar sobre a esquerda e não o contrário, senão é considerado algo grosseiro.

O homem riu ao ouvir aquilo, não conseguia se imaginar perdendo seu precioso tempo com coisas inúteis como aquilo. Apesar de achar que tinham certas coisas que deveriam ser ensinadas as damas, principalmente como tratar um homem.

- Deves aprender a se portar perante a sociedade e é para isso que as damas da escola devem fazer essa aula.

- Eu que devo decidir como me portar. – Mira falou. – Junto com meu futuro marido, é claro... – Ela completou falando, diminuindo o tom de voz a cada sílaba.

- Há lugares que somente um homem pode te levar. E por homem, quero dizer um marido. - Ele disse e percebendo que ela o olhava um tanto quanto ressabiada, continuou. - E não o digo apenas em relação aos mistérios do casamento, mas sim em termos de sociedade, destaque, vida.

- Não que eu realmente me importe com a sociedade... - Ela falou jogando o cabelo para trás de uma forma que captou o olhar do professor.

- Mas tu o és obrigada a fazer, pois, afinal, vives dentro dela, relaciona-se com ela e com todas as suas pequenas regras e convenções. - Ele continuou, mudando o foco dos ombros da garota para os olhos dela. - Deixe-me exemplificar:

E com tom professoral ele começou a discorrer:

“Imagine que um dia você se torne uma excelente espadachim, alguém muito superior ao atual campeão de torneios entre feudos, abaixo somente de mim e de Deus. Algo muito difícil de acontecer, mas não duvido de minhas capacidades de lhe ensinar o que sei. Enfim, vamos supor que isso um dia ocorra.
Você nunca poderia entrar num torneio para competir. Talvez disfarçada como homem, como recentemente tornou-se moda entre as damas rebeldes, que, talvez até tenham seu charme, mas cujo fim é lendariamente triste – seus homens se apaixonam por elas, mas, como se recusam a casar, acabam abandonadas depois de usadas até a exaustão. Caprichos de mulher? Não, caprichos de homem.
De qualquer modo, nunca lhe aceitariam que é melhor do que o campeão, nem vencendo numa luta justa. Alguma penalidade lhe teria sido imposta, atribuir-se-ia alguma fraqueza, alguma desonestidade acometeria ao homem e você seria uma rameira vil que teria maculado a santidade do torneio.
Entretanto, caso se casasse – comigo, ele quase deixou escapar e corrigiu a linha de pensamento que viria a seguir. – você poderia exaltar a glória de seu marido, que teria uma mulher que poderia se defender e defender sua propriedade caso se encontrasse fora. Além do quê, valorizaria sua pureza, caso alguém tentasse lhe acometer um crime, estaria salva a honra. Poderia até entrar em algum torneio, e talvez fosse até reconhecida como uma espadachim de primeira, talvez não.
Mas seria lhe dada uma chance honesta de tentar...”


Ele terminou seu pensamento abruptamente. Em sua cabeça, seria ele o marido orgulhoso de sua amada, que seria como o braço que lhe faltava – justo e impetuoso contra os inimigos, um instrumento de glória, uma constante fonte de prazer.

Percebia agora que amava Mira Barlow por tudo que ela era e pelo futuro brilhante que poderia ter. E por teu cheiro, cabelos ruivos, por teu corpo com o qual ele sonhava, por teu espírito tão parecido com o dele. Como lhe daria orgulho vê-la arrasando qualquer imbecil que se julgasse campeão de algo que não fosse bola!

- Como vês casar não é de todo mau. - Ele complementou.

- Casar significa que deixo de ter voz com o resto do mundo, significa baixar a cabeça à vontade de alguém e... - Ela calou como se percebesse de repente com quem estava falando.

- E? - Encorajou ele. - Não se reprima. Hoje não estamos como professor e aluna aqui, mas sim, como deveriam um homem e uma mulher poder conversar...

- E me entregar a alguém. - Ela baixou a cabeça. Seu rosto pareceu tão triste e angelical quanto podia, mostrando uma dualidade que atingiu o homem igualmente. Matthew quis abraçá-la e ao mesmo tempo mal pode conter de se atirar a ela, agarra-la e mostrá-la as vantagens imediatas do casamento... - De corpo, mas talvez não de alma. Não se eu não puder escolher com quem eu devo casar.

- Ah. - Ele disse, sacudindo os instintos anteriores, satisfeito por ver que ela planejava escolher seu pretendente e não simplesmente acatar a decisão dos pais. Encaixava-se com seu plano de corte. - Nem todos os casamentos são arranjados, e nem todos são ruins.

Depois ele continuou.

- Quanto a ter voz com alguém, isso tu não tens. Tu és mulher. Acate este fato e aceite-o com orgulho. É um fardo que alguém tem que carregar. Quando eu era menor e pensava que eu era o dono do mundo, desprezava meu pai por ter sido um homem fraco e se deixado vencer por outro ser humano - minha mãe. Entendo hoje o que ele quis dizer com: “o homem pode ser a cabeça de uma família, mas a mulher é o pescoço – que dobra a cabeça para o lado que bem entender.” Tu terás esse poder quando casar.”

- Como podes ter tanta certeza? - Mira perguntou.

- Ele era meu pai e ele estava certo. Eu tenho seu sangue nas veias, logo, também devo estar. - Ele riu ao se ouvir falar aquilo. - As coisas simplesmente são assim. Tu te lembrarás disso quando casar.

Ela calou-se e ele também. Por alguns segundos os dois somente se olharam, observando o que acabara de acontecer entre eles. Algo estava diferente e nem mesmo eles conseguiam definir o que era.

Scadufax relinchou e a égua montada por Matthew, Eva, também. O professor se levantou e esticando a mão para a menina, informou-a de que talvez fosse hora de voltar ao castelo. Poderiam achar que ela fugira, e não que fora convocada por seu professor de história para uma vistoria de rotina no braço que fora machucado.

- Mas ele já sarou. – Ela disse.

- Você me entendeu. - Ele respondeu e voltaram ao castelo.

Ele à frente, ela depois, como bem convinha a um homem e a uma mulher. Mira precisava se reencontrar com sua turma e Matthew precisava urgentemente de um copo de seu whisky precioso.

*****


Gentem, fico tããão feliz quando leio um comentário!!

Espero que este capítulo tenha sido mais longo, já que o último foi curtinho.

A Katchianya colocou um box de mensagens na lateral (comentários e sugestões sobre o blog e toda a históia) e também conseguiu habilitar para que pessoas conseguissem colocar comentários sem conta do gtalk ou affins, podendo ser anônimo.

Booom, por hoje é só pessoal.

Beijões

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou adorando a historia...
Mas, pq se chama fogo e gelo?