terça-feira, 11 de agosto de 2009

Capítulo 15


A viagem durante o dia foi calma, tantos para os alunos quanto para os professores. Hostila dormira a dia todo, sob efeito de sua poção e em nenhum momento incomodara as garotas com seus comentários. Em compensação as três meninas se ajeitaram para sentar em um lugar onde normalmente ficariam duas. Isso não seria um grande incomodo se a viagem não fosse corrida, com pausa somente para duas refeições.

A chegada na hospedaria onde ficariam pelo pernoite foi bem recebida principalmente pelas garotas que queria esticar as pernas e sair do aperto que era a condução delas.

Em todo o jantar a professora Hostila estava bem acordada e criticou os modos e a arrumação de Mira à mesa. Durante a viagem a ruiva ficara sentada no chão da carruagem para deixar as outras mais confortáveis, além dela mesma, mas isso a levou a ficar com dor na coluna e um rosto extremamente cansado. Para a professora, ela não poderia se apresentar para o jantar com aquele rosto e deveria ao menos tentar disfarçar arrumando o cabelo corretamente, mesmo não tendo ninguém à mesa além das garotas.

Os rapazes tinham um horário mais flexível e não tinham a obrigatoriedade de ficar na hospedaria, nem para o jantar. Eles tinham toda uma vila para conhecer e se divertir, somente deveriam estar inteiros para a continuação da viagem no dia seguinte. O mesmo valia para o professor que era responsável por eles, que saíra para comer com seus alunos, mas decidira voltar mais cedo.

Ao entrar na hospedagem Matthew viu que ainda havia alguém na parte separada para descanso, perto da lareira. Viu que era uma mulher e pelo horário sabia que somente Mira teria a coragem para estar ali, sozinha. Coragem ou insensatez, ele diria...

Ela estava sentada em uma cadeira, olhando fixamente para o fogo. Segurava suas longas madeixas na frente, enquanto suas mão mexiam, arrumando e desarrumando uma trança. Seus olhos, apesar de fixos, estavam longe, junto com sua mente.

Matthew se perguntou se ela o aguardava ou se algo a perturbava. Ele se lembrou que bebera antes de voltar, não esperava encontrar ninguém, muito menos ela. Ele não devia explicações de seus atos e nem estava fora de sua consciência, mas algo no fato de estar com cheiro de bebida e sentar ao lado daquela linda mulher o incomodava.

Mira virou o rosto, sentindo que tinha alguém parado atrás. Ouvira passos de alguém entrar e prestou atenção que o mesmo não continuara. Ao ver Matthew parado ali ela se perguntou por que ele não se aproximava. Ao pensar isso a ruiva percebeu que não estava ali somente porque ficara incomodada com o que ouvira de sua professora durante o jantar, mas o estava esperando. Queria conversar com alguém, queria conversar com ele.

Ao se ver alvo dos olhos negros de Mira, ele decidiu que iria ate a sala, mas um pouco afastado dela. Ele sentou em um banco e olhou para ela. Naquele momento que o mestre de esgrima viu aquele rosto angelical iluminado pelas chamas da lareira ele despertou e junto todo o seu corpo.

- Professora Griffyndor falou que eu sou bruta... – Mira falou olhando as chamas. As palavras usadas por sua professora a atingiu mais do que queria admitir. – Que sou um homem escondido dentro de um vestido e por isso iria competir em montaria. Que nunca terei um marido, pois nenhum homem aceitaria uma meia mulher masculinizada...

Internamente ele sorriu ao ver que ela estava esperando por ele, mas sentiu uma pontada de tristeza ao ver o olhar dela, perdido. Não se lembrava quando foi a vez que a vira assim, principalmente por palavras vindas de uma professora.

- Sabes minha opinião sobre mulheres tentarem ser iguais a homens, do mesmo modo que sei a tua. Mas posso afirmar que mesmo a vendo manejar muito bem uma espada, nunca, em nenhum momento, a vi como um homem... – “e nunca a veria”, ele completou mentalmente.

Ela virou a cabeça e observou bem o rosto de Matthew. Pode sentir pelo cheiro dele, provavelmente estava em uma taverna e se perguntou se lá ele estava acompanhado ou não. Esse segundo pensamento a incomodou de um modo que não imaginava possível e a ruiva se viu perguntando o por quê.

- Obrigada Matthew, era o que eu precisava ouvir. – Ela falou desfazendo mais uma vez a trança que estava em seu ombro.

Ele virou o rosto ao ouvir Mira o chamar pelo seus primeiro nome querendo observá-la melhor. Ao vê-la jogar seus cabelos, agora soltos, para as costas, Matthew buscou uma sobriedade para se controlar. Estava cada vez mais difícil segurar a necessidade que seu corpo sentia em saber o sabor daquela pele.

- É melhor subir e descansar, amanhã teremos um dia longo antes de chegarmos, à noite, na cidade onde será o torneio.

O cavalheiro dentro dele precisava que ela saísse de perto dele o mais rápido possível. Ele podia ver que se ele avançasse naquele momento até poderia ter o que queria, mas não como queria.

A jovem assentiu e se levantou, deixando atrás um homem que a cada dia que passava a via como sua mulher. Ele sorriu enquanto a via subir as escadas e segurou firmemente os impulsos de ir atrás dela e arrasta-la tal qual animal toma sua fêmea.

Sentia-se um animal muitas vezes, mas sabia que Deus fizera os homens daquele jeito com um propósito e não se envergonhava de suas necessidades. Era curiosa sua relação com o olfato inclusive. Muitos dos animais reconheciam uns aos outros pelo cheiro, inclusive sabendo se uma fêmea no cio estava por perto.

Quando Mira estava no recinto, ele sentia seu cheiro invadindo-o e hipnotizando-o, algo de jasmim e sândalo com o perfume único de mulher que ela exalava. Era o único cheiro que ele conseguia lembrar de cabeça, algo que o excitava só de pensar de senti-lo no pescoço da dona.

Nunca tivera isso com nenhuma mulher por quem eventualmente tivesse se apaixonado, ou só simplesmente sentido desejo. Era algo único, novo, uma fome que não podia ser saciada, uma coceira que não podia ser coçada.

A desgraça do sorriso dela, o cabelo vermelho que ocupava sua mente. Sentado no salão da taverna, ele olhava para o fogo tentando se acalmar e enxergando ali o jeito de sua amada.

Acabou adormecendo.

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